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domingo, 23 de dezembro de 2012

PAPAI NOEL ESTÁ MORRENDO




Neste segundo texto de nossa trilogia para no Natal, mais uma vez falarei do Bom Velhinho, mas infelizmente darei uma má notícia: Papai Noel está morrendo! Acredito firmemente que a situação possa ser revertida, mas para tanto é necessário o diagnóstico acerca de sua doença. Proponho-me, hoje, a realizá-lo.

Recentemente assisti a um filme, no qual se dizia que o Papai Noel e outros personagens famosos, como o coelhinho da Páscoa, perdiam o poder quando as crianças deixavam de acreditar neles. Bom, não julgo que esse seja o problema. Embora tenha gostado bastante do filme e pense que a lição que ele passa é importante, julgo que o diagnóstico que ele propõe não explica o atual estado do velho de barba branca.

Em todas as épocas, as crianças deixaram de acreditar no Papai Noel. Muitas pessoas sabem exatamente o momento em que deixaram de aceitar a existência do Bom Velhinho: quando viram o próprio avô vestindo a famosa roupa vermelha, através da revelação empreendida por um primo ou irmão mais velho, numa conversa com um colega da escola. Em algum momento houve a revelação: Ele não existe. Apesar de uma sequência ininterrupta de declarações de que ele não passava de uma fábula, Papai Noel permaneceu vivo. Hoje, ele corre sério risco de morrer.

O que mata uma lenda não é a descoberta de que ela é fantasiosa, mas a negação daquilo que lhe dá sentido. Todo e qualquer conto de fadas aponta a uma realidade para além da própria história narrada. Percebam: a verdade está no conto, mas não se confunde com ele. Neste momento o leitor pode julgar que estou ficando maluco ao defender a verdade contida nas histórias de fadas. Talvez eu mesmo duvidasse de minha sanidade se não estivesse bem acompanhado por pessoas muito sãs: Chesterton, Tolkien e C.S. Lewis.

Contos de fadas, por exemplo, nos dizem que há um término para os desafios e que este fim é o “viveram felizes para sempre”. Esta afirmação é tão fantástica que parece uma mentira. “As pessoas não vivem felizes e o para sempre não existe” – esta é a declaração de um crítico materialista. A desconfiança na felicidade e na eternidade que mata as lendas. As fábulas traduzem nossas esperanças e quando estas são negadas, ou consideradas irrisórias, os contos de fadas passam a ser brincadeiras de mau gosto - meras distrações de uma realidade cruel e vazia.

Penso que Papai Noel está morrendo porque o Natal está morrendo. Explico: o Natal é uma celebração da felicidade e da eternidade. Ou melhor: nesta festa de fim de ano é celebrado o fato de que o eterno se fez menino e que a felicidade caminhou conosco. Toda a comida e presentes de Natal ganham sentido quando se acredita que “nesta noite nasceu um menino”. Menino este tão diferente e ao mesmo tempo tão igual a tantos outros.

Quando este pano de fundo é deixado de lado, a festa vira uma farra vazia, a ceia se torna comilança e os presentes desculpas para o consumismo. Neste contexto, o velho Noel padece quando é alçado à categoria de símbolo oco. Se fosse possível uma lenda sofrer, imagino que hoje o bom velhinho choraria ao saber que se tornou meramente um instrumento de marketing. “Eles entenderam tudo errado”, talvez ele dissesse se isto lhe estivesse ao seu alcance.

Penso que, no contexto tradicional, Papai Noel funciona como uma espécie de parábola. Quando dizemos às crianças que há alguém invisível que as presenteia, estamos expressando uma verdade metafísica. A lenda tem um caráter pedagógico. Papai Noel não é Deus, mas ajuda a ensinar alguns de seus atributos: Ele deseja que sejamos bons! Nós não O vemos, mas Ele se importa conosco! Ele nos dá presentes!

No atual contexto, o papel desempenhado pelo Papai Noel fica perdido. A ponte entre o símbolo e o significado não é feita e aquilo que deveria ser uma parábola torna-se uma mentira. Antes a criança que acreditasse no bom velhinho, ao chegar a certa idade e descobrir que ele era apenas um mito, podia ficar até feliz sabendo que ele apontava para um fato. A personagem ficcional apontava para uma pessoa real e a diversão da infância apontava para uma grande alegria que poderia se perpetuar.

Quando o transcendente é negado, parece que, quando falamos sobre Papai Noel, queremos proteger as crianças de um mundo desencantado. É como se disséssemos em voz baixa: “Aproveite enquanto pode porque a realidade é dura. Um dia, você descobrirá que tudo isso é uma mentira”.

O velho Noel está morrendo não porque não existe, afinal ele nunca existiu e sobreviveu muito bem apesar disso. Morre porque hoje julgam não existir Aquele para o qual ele é apenas um sinal. Morre também porque mesmo muitos daqueles que afirmam que existe um Pai maior que todos os pais, sejam eles noéis ou não, vivem como se tal Pai não existisse.

Apesar de tudo isso, a esperança não morreu; Papai Noel, apesar de estar muito debilitado, também não. A esperança não morreu porque, como afirmei ontem, as lendas tem um grande poder de resistência. Papai Noel, mesmo desfigurado, continua tentado apontar para Aquele que é o maior dos presentes.

Além disso, cabe dizer que uma luz não desaparece porque alguém fecha os olhos. O Natal é fantástico, mesmo que grande parte não perceba. Alegra saber que ainda existem muitos que percebem...Que estes possam ser como Papai Noel e sinalizar que há algo para além da festa e que é este algo que dá sentido à própria festa.

Terminando o texto, lembro de outro símbolo bastante ligado ao Natal e que possui um trabalho muito semelhante ao do Bom Velhinho. Refiro-me ao bom e velho sino. O sino simplesmente avisa, convoca. Neste século XXI precisamos de sinos que novamente dêem a Grande Notícia. Notícia que é capaz de salvar os homens e as lendas. Quero ser um destes sinos e, confesso que serei muito feliz se algum dia aqueles que convivem comigo, ao observar meu jeito de viver e o brilho nos meus olhos, puderem cantar:

“Bate o sino, pequenino, sino de Belém, já nasceu Deus Menino para o nosso bem.”

Alessandro Garcia
Doutorando em Sociologia - Fundador da Oficina de Valores

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A composição da Ave-Maria

A história da Ordem do Carmo é cheia de riquezas. Seu fundador, Santo Elias, 400 anos antes de Nosso Senhor Jesus Cristo, já venerava a Mãe de Deus que iria nascer.
Afirmava São Epifânio que já na primeira metade do século IV, existia uma associação de mulheres cristãs que prestavam um culto a Maria Santíssima.Vemos na história quantos Santos tiveram grande devoção à Mãe de Deus, e que muitos a conheciam como Santa Maria.
Porém, foi depois do Concílio de Éfeso, realizado no ano de 431, por convocação do Papa Celestino I, que surgiu um culto litúrgico em honra à Mãe de Deus.
O Concílio de Éfeso foi convocado para combater as heresias do Pelagismo e Nestorismo, dirimindo equívocos sobre a Doutrina Cristã, ao mesmo tempo em que definia uma sublime prerrogativa de Maria e o seu verdadeiro posicionamento na economia da salvação, culminando por decretar o Dogma de SUA Maternidade Divina.
Os erros das heresias espalharam-se rapidamente, fazendo muitos adeptos como normalmente acontecia de inicio com todas as heresias. Mas esses erros que versavam sobre a Divindade de Jesus Cristo e a Maternidade de Sua Santa Mãe, foram logo e energicamente combatidos.
São Cirilo, Bispo de Alexandria, foi o Presidente do Concílio em Éfeso, que defendeu dignamente as verdades do cristianismo, contra as investidas herejas.
No dia do encerramento, após a leitura da sentença que condenava os heresiarcas, expressando o pensamento unânime de todos os presentes, foi lido o decreto do Dogma da Maternidade Divina de Maria Santíssima, proclamado e justificado com toda honra, para a maior Glória de Deus. O Papa São Celestino emocionado e com lágrimas nos olhos, ajoelhou-se e respeitosamente saudou-a assim:
“Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém”
Essa saudação de Sua Santidade, ficou sendo a segunda parte da AVE MARIA, que tem como primeira parte dois trechos. Um formado pelo cumprimento feito pelo Arcanjo São Gabriel a Maria, no dia da Anunciação, em Nazaré:
“Ave Maria, cheia de graça. O Senhor é convosco”.
O outro trecho é constituído pela frase pronunciada por Santa Isabel, prima de Maria, quando a Santíssima Virgem foi a Ain Karin para ajuda-la durante os três últimos meses de gravidez, do qual nasceu São João Batista. Disse Isabel:
“Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre”.