Páginas

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Meios de comunicação devem servir para construção da comunhão.

Dom Orani João Tempesta, Arcebispo metropolitano do Rio de Janeiro
Neste domingo, 5, Solenidade da Ascensão do Senhor, celebramos o 45º Dia Mundial das Comunicações Sociais. Lançamos oficialmente neste final de Semana o 7º Mutirão Brasileiro de Comunicação que acontecerá no Rio de Janeiro de 17 a 22 de julho próximos, precedido do 1º Seminário de Comunicação para os Bispos do Brasil.

Nesta mesma semana estaremos celebrando a Novena em preparação a Pentecostes e a Semana de Orações pela unidade dos cristãos. Sem dúvida que tudo isso tem muito a ver também com a comunicação entre nós.

O Dia Mundial das Comunicações, único criado pelo Concílio Vaticano II, afigura-se como um convite direcionado, indistintamente, a todos nós para refletirmos e agirmos com compromisso cristão e ético nas fronteiras da Comunicação Social – patrimônio da humanidade que ganha, no mundo de hoje, contornos nunca antes imaginados, que se modificam em velocidade estonteante, em escalas exponenciais.

Como de costume, a cada ano temos a feliz oportunidade de aprofundar um tema em voga que contribua para avaliarmos as mudanças, os cenários, promessas e desafios que a comunicação, sobremaneira em sua feição tecnológica, provoca. O tema que o Papa Bento XVI escolheu para 2011 não poderia ser mais prolífico e adequado aos nossos tempos: “Verdade, anúncio e autenticidade de vida, na era digital”. O assunto que esse tema enseja possui o frescor da atualidade e exorta a todos a restituir a verdade e autenticidade no anúncio da Boa-Nova.

Para tanto, a missão de cada um de nós é, antes de tudo, reafirmar a essência das mídias, antigas e novas, recuperando as sábias palavras do Papa Pio XII: “[...] os maravilhosos progressos técnicos, de que se gloriam nossos tempos, sem dúvida, são fruto do engenho e do trabalho humano”, a fim de que cada cristão e cada cristã possa fazer do universo da comunicação social um espaço autêntico de propagação da Verdade que é Jesus Cristo.

Não podemos nos abster de cumprir essa tarefa no momento em que os artefatos tecnológicos ocupam posição central e abarcam todos os domínios da atividade humana. É necessário que coloquemos em funcionamento operadores éticos, que coíbam abusos e favoreçam a emancipação humana nesse terreno.

As observações do Santo Padre, o Papa Bento XVI, na mensagem para o 45º Dia Mundial das Comunicações Sociais, não deixam margem à dúvida no que se refere à importância da comunicação em nossas vidas: “Vai-se tornando cada vez mais comum a convicção de que, tal como a Revolução Industrial produziu uma mudança profunda na sociedade através das novidades inseridas no ciclo de produção e na vida dos trabalhadores, também hoje a profunda transformação operada no campo das comunicações guia o fluxo de grandes mudanças culturais e sociais.

As novas tecnologias estão a mudar não só o modo de comunicar, mas a própria comunicação em si mesma, podendo-se afirmar que estamos perante a uma ampla transformação cultural. Com este modo de difundir informações e conhecimentos, está a nascer uma nova maneira de aprender e pensar, com oportunidades inéditas de estabelecer relações e de construir comunhão.”

A realidade construída pela comunicação digital é irreversível, como sabemos, fazendo surgir uma cultura nova, afetando, em larga medida, os relacionamentos. A propósito, é aos relacionamentos que o Papa Bento XVI dedica parte significativa de sua bela mensagem. Num contexto em que as informações e o conhecimento são permutados intensivamente, em que as fronteiras entre emissor e receptor de mensagens são diluídas, é necessário que tenhamos consciência do nosso papel e das consequências dos nossos atos. Os intercâmbios no espaço digital não devem se oferecer apenas para troca banal de dados, como adverte o Santo Padre, tampouco estar subjugados a ilusões narcísicas de satisfação imediata e superficial do eu, mas deve, primordialmente, favorecer o diálogo e a partilha.

Com tanto mais razão essa advertência do Papa Bento XVI é direcionada, prioritarimente, aos jovens, por se constituírem polo de atração vulnerável ao estabelecimento de novos contatos, novas descobertas, ao exercício da visibilidade – possibilidades expressamente exploradas pela internet. Por extensão, essa advertência deve ressoar nos corações e mentes dos adultos, deve impulsionar a todos para buscar efetivamente partilhas, consolidar laços, arregimentar amizades sem, contudo, cairmos nas armadilhas do artificialismo, tampouco nos isolarmos em um mundo virtual paralelo onde os relacionamentos à distância nos satisfaçam provisoriamente.

A esse respeito, o Santo Padre nos pergunta: “Quem é o meu próximo?”, “em qual mundo vivemos?”. Sem contestar os avanços logrados pela internet, Bento XVI esclarece que esses mundos virtuais não substituem o relacionamento interpessoal. Com as novas tecnologias podemos nos encontrar para além dos “confins do espaço e das próprias culturas”, e isso supõe uma coerência de vida e honestidade de princípios.

É o retorno do velho ditado que o segredo está justamente no “ser humano”, um operador desses veículos de transmissão e informação. Essas advertências nos levam a refletir sobre o papel da evangelização nesse contexto.

A busca de amizades e de laços afetivos torna o espaço das mídias sociais um lugar de intensas movimentações e exibição de si próprio (pensamentos, desejos e ações). O lastro que a cultura virtual vai deixando em nossa trajetória abre um leque diverso de oportunidades: não raro vemos a exploração dessas mídias para a propagação de candidatos a cargos políticos, para difamações de pessoas, de grupos étnico-raciais, para convocação momentânea de manifestações públicas. O alcance dessas mídias são ferramentas indispensáveis, que chegam a ser fonte de notícias para os jornais impressos.

Os relacionamentos efêmeros e as trocas passageiras encetadas pela internet e outros dispositivos digitais, por sua vez, nos conduzem a uma ponderação ainda mais profunda: qual ideal de humano temos e qual podemos construir? Certamente, o desenrolar dessas questões nos reenvia para os modos de utilização desses meios.

A Igreja, no seu compromisso com uma outra comunicação, vem dotando seus fiéis com vários estudos e debates consubstanciados em textos e documentos, a exemplo de Igreja e Internet (28.02.2002), Ética na Internet (28.02.2002) e Ética nas Comunicações Sociais (02.06.2000), além da carta apostólica O Rápido Desenvolvimento (24.01.2005). A propósito, essas mesmas preocupações estão previstas de maneira resumida no documento conciliar Inter Mirifica, que completará cinquenta anos em 4 de dezembro de 2014.

Não nos olvidemos: as múltiplas possibilidades de interação com os meios digitais, com a cultura virtual não podem e nem devem estar desvinculadas do diálogo que vivifica, da comunhão que nos redime, a fim de que a grande rede seja de fato uma instância criativa de identificação coletiva, de aproximação do outro e, fundamentalmente, de transmissão do Evangelho.
A nossa vocação não pode ser desprezada, pois somos chamados a testemunhar com coerência os juízos, perfis, escolhas, preferências, de maneira que transpareça as razões “de nossa esperança”, a proclamar que Cristo “constitui a resposta plena e autêntica”.

Especialmente para nós no Brasil, esse Dia Mundial das Comunicações vai ressoar as conquistas oriundas do trabalho da Comissão Episcopal, procurando sempre dar a resposta plena e autêntica a Jesus Cristo, com a graça de Deus: a criação da Signis Brasil, instituição articuladora por congregar todos os meios de comunicação católicos de nosso país, e a publicação do documento de Estudos da CNBB n. 101, intitulados A comunicação na vida e missão da Igreja no Brasil, base fundamental para a construção do futuro Diretório das Comunicações, ainda tão sonhado e desejado, são alguns empreendimentos que visam fazer dos tentáculos comunicacionais instrumentos a serviço da obra de Deus.

A criação da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação criada em nossa Assembléia Geral realizada em Maio em Aparecida demonstra o apreço e a importância que o nosso episcopado dedica a esse tema.

Menção seja dada também à equipe de assessoria nacional da Pastoral da Comunicação, que vem dedicando suas reflexões e estudos para oferecer análises e propostas adequadas aos comunicadores por meio da publicação de novo livro sobre a nossa estimada Pastoral da Comunicação (Pascom).

Não podemos deixar de recordar novamente do Seminário de Comunicação para os Bispos do Brasil, a ser realizado em julho deste ano, promovido em parceria com o Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais. Esse seminário procura reposicionar as discussões sobre o tema, levando em conta as reflexões contidas na mensagem do Papa para o Dia Mundial das Comunicações de 2011, bem como as diretrizes estabelecidas pela Igreja para esse expediente.

Uma nova cultura está nascendo através de uma nova linguagem e que nos lança desafios enormes diante da mudança de época que ora vivemos. Dessa maneira, resta-nos convidá-lo a integrar a geração digital, com a plena convicção de que somos chamados a aceitar o desafio de fazer dessas novas formas de expressão o areópago digital, onde Cristo mostra seu rosto e nos convoca para a conversão.

Portanto, o nosso desafio é trabalhar em nossas comunidades, paróquias, pastorais de comunicação, propagando o tema do Dia Mundial e colaborando para que a “Verdade, anúncio e autenticidade de vida, na era digital”, seja uma realidade incontornável em nosso entorno e no mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário