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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

PROBLEMAS, QUE DESAFIAM A MÚSICA LITÚRGICA NO BRASIL.

O Estudo da CNBB 79 aponta alguns aspectos da música litúrgica no Brasil, que precisam ser melhorados:

1. Distanciamento entre músicos e comunidade - Observa-se, aqui e acolá, um recíproco distanciamento entre músicos dotados de uma arte musical mais elaborada e a experiência comunitária da fé. De um lado, nem sempre os músicos de mais aprimorada cultura musical se entrosam e se identificam com a experiência celebrativa das comunidades. Do outro, nem sempre as comunidades se preocupam em melhorar seu desempenho musical e beneficiar-se da colaboração de músicos competentes. Tanto as pessoas que se ocupam do canto nas comunidades precisariam ser incentivadas a aprimorar sua formação litúrgica e musical, quanto os músicos profissionais precisariam receber uma formação cristã e litúrgica (n° 23).

2. Participação unilateral – Ainda são freqüentes as celebrações em que alguém ou um grupo executa sozinho todos os cantos, não se importando com a participação do povo; assembléias que pecam pela passividade e desinteresse pelo canto; ou, ao contrário, celebrações em que a assembléia executa todos os cantos, sem valorizar outras possibilidades (solo, grupo, coro, forma litânica) (n° 24).

3. Música passatempo – A postura de alguns animadores e animadoras do canto nem sempre tem propiciado um clima de oração e de interiorização. Às vezes há mais “ruído” e distração do que contemplação, escuta e louvor. Outras vezes, a música é vista meramente como “passatempo”, para quebrar a monotonia de celebrações enfadonhas e rotineiras (n° 25).

4. Não observância de critérios fundamentais – Não são poucos os animadores ou animadoras de canto que, por falta de formação litúrgica, desconhecem os critérios de escolha dos cantos para uma celebração:

+ a funcionalidade de cada canto com relação aos vários momentos da celebração;

+ a hierarquia dos cantos: uns elementares, e por isso mesmo mais importantes e necessários; outros acessórios e, conforme as oportunidades, dispensáveis;

+ a adequação dos cantos a cada tempo litúrgico, a cada festa, a cada tipo de celebração e a cada tipo de assembléia (n° 26).

5. Dicotomia entre canto e liturgia – Além disso, as missas dos chamados “meses temáticos”, ou missas temáticas, promovidas por grande número de folhetos litúrgicos, resultam numa total dicotomia entre o canto e a liturgia. Continua-se cantando “na” liturgia qualquer música religiosa, catequética ou de mensagem, em vez de cantar “a” liturgia. Este mesmo erro ocorre também quando alguns movimentos e/ou grupos propõem músicas que não estão de acordo com a ação ritual e os tempos litúrgicos (n° 27).

6. Som inadequado – Em nível de comunicação, existem alguns problemas que não favorecem a execução do canto: instalação ou regulagem inadequada do serviço de som, abuso do microfone (abafando a voz da assembléia, numa postura de “show”), abuso do volume dos instrumentos, bandas e grupos não integrados com a equipe de celebração, sem formação e sem motivação litúrgica (n° 28).

7. Instrumentos apenas para acompanhamento – Os instrumentos musicais, em geral, são usados só para acompanhar o canto, e não são valorizados para executar um prelúdio, um interlúdio ou um poslúdio, e assim propiciar clima de interiorização e maior proveito espiritual em determinados momentos da celebração (n° 29).

8. Demasiada mudança de repertório – A demasiada mudança de repertório, por conta de uma superficial mania de novidade ou concessão à onda de consumismo, faz com que o povo não aprenda bem nenhum canto, ficando impedido de participar dele com gosto e prazer, quando se sabe que a repetição, em matéria de canto, além de favorecer a memorização, é um fator de densidade emocional e simbólica (n° 30).

9. Pobreza rítmica – 31. O cantar das assembléias demonstra, não raro, grande pobreza rítmica e contrasta com a riqueza de ritmos da música brasileira. E nem poderia ser diferente, pois mesmo aqueles cantos que, por sua natureza, são portadores de ritmo bem marcante e característico, cantados sem o devido acompanhamento instrumental, terminam na vala comum da mesmice arrastada e entediante (n° 31).

10. Textos que deixam a desejar – Por outro lado, os textos de diversos cantos muito deixam a desejar: ora trazem discurso complicado e doutrinário, sem poesia e sem unção; ora são mero jogo de rima, vazio e artificial; ora contêm muito texto para pouca melodia, dificultando a execução; ora pecam pela métrica irregular dos versos e das estrofes; ora ainda falham por freqüentes desencontros entre os acentos das palavras e os acentos da melodia, chegando a deformar o real sentido das palavras; ora, finalmente, carregam refrãos bem mais extensos que as estrofes, numa desproporção que torna o canto pesado e de difícil assimilação da parte da assembléia (n° 32).

11. Adaptações pouco criteriosas – Continua ocorrendo, ainda hoje, a prática da lei do menor esforço ou falta de criatividade musical, ao utilizar-se músicas de sucesso, com textos adaptados para uso na celebração, sem maiores critérios (n° 33).

12. Deficiência na qualidade musical – Muitas missas, transmitidas pela televisão e pelo rádio, são pobres e não edificam os telespectadores e ouvintes, devido à deficiente qualidade musical, por conta de escolha não criteriosa dos cantos e a má qualidade na interpretação vocal e/ou instrumental (n° 34).

13. Presidentes de celebrações e a falta de canto - É lamentável que a maioria dos que presidem hoje as celebrações litúrgicas não canta aquelas partes que lhes são próprias (Orações, Prefácio, Narrativa da Instituição, Anamnese, Doxologia…), como propõe a tradição multissecular das Igrejas e oportunamente sugere o nosso Hinário Litúrgico (n° 35).

14. Descuido na formação religiosa e sacerdotal quanto ao canto – Uma das causas do descuido no canto litúrgico nas comunidades é o fato de, nas próprias casas de formação sacerdotal ou religiosa, não se cuidar devidamente da formação litúrgico-musical dos formandos, nem se proporcionar oportunidades de formação mais aprimorada aos que têm maior talento e pendor. Outras vezes, não há interesse da parte dos próprios formandos, por considerarem a música uma arte dispensável. Este desinteresse pode ser conseqüência da falta de vivência litúrgicomusical incluindo aqui, o canto gregoriano e a polifonia sacra (n° 36).

15. Suportar o canto ao invés de valorizar – Muitos dos que presidem a celebração apenas “suportam” o canto da assembléia, em vez de incentivá-lo e valorizá-lo, criando assim obstáculos ao povo, no exercício do direito e dever que tem7 de participar ativamente da celebração, mediante o canto.

16. Falta de preparo para a prática musical nas comunidades – Por toda a parte, faltam pessoas competentes, capazes de organizar e orientar a prática musical nas comunidades. Para garantir uma preparação adequada de pessoas dotadas, é urgente que as comunidades, paróquias e dioceses invistam na formação litúrgico-musical destes agentes (n° 38).

17. Pouco investimento em músicos – Muitas comunidades não têm manifestado interesse na aquisição de músicos competentes e de coros de boa qualidade. Isso ocorre, entre outras razões, pelo fato de não se remunerar devidamente o serviço dos músicos e de não se investir na sua formação litúrgico-musical. É sintomático que, nos conservatórios e nas faculdades de música, a grande maioria dos estudantes provém das Igrejas Evangélicas (n° 39).

18. Ensaios de canto ao invés de cursos – Embora os Cursos de Canto Pastoral e Litúrgico venham ajudando muito na aprendizagem de cantos, muitas vezes ainda falham por não valorizar os cantos propriamente litúrgicos, limitando-se ao mero ensaio, sem se preocupar o bastante com o embasamento litúrgico, teológico e espiritual (n° 40).

19. Cantos impróprios nas celebrações ocasionais - Continua problemático o canto entre os participantes de celebrações ocasionais, como bodas, casamentos, missa de 15 anos, missa de 7º dia, formatura etc., seja por falta de uma assembléia motivada, seja por falta de conhecimento de cantos adequados. Se, por uma parte, há cantos que têm o mérito de evidenciar o fato humano da união conjugal, do aniversário natalício ou da morte, por outra, são pobres ou carentes em celebrar a dimensão cristã e pascal desses eventos (n° 41).

20. Não distinção entre música sacra e música litúrgica - Há também coros polifônicos que não fazem distinção entre música sacra e música litúrgica, entoando cantos que não são próprios para a celebração (n° 42).

21. Substituições fáceis de textos litúrgicos – Sintomas preocupantes: celebrações promovidas por movimentos religiosos, congregando freqüentemente grande número de participantes, aqui e acolá, com ampla divulgação da mídia, pouco levam em conta os textos litúrgicos, substituindo-os facilmente por textos de grande pobreza existencial, poética e teológica. Descamba-se para desvios preocupantes, que podem desvirtuar a experiência espiritual da comunidade cristã de várias maneiras: (n° 43).

22. Priorização do dimensão pessoal sobre a comunitária da fé – seja pelo exagerado individualismo, intimista e sentimentalista, muito “eu” e muito “meu”, desvirtuando a dimensão comunitária da fé, numa busca de emoções que reduz a relação com Deus a mero jogo de sentimentos, sem a profundidade e a amplitude do compromisso cristão, sem a seriedade da fé como entrega confiante à vontade do Pai, em comunhão com os irmãos e irmãs, para a realização do seu Reino aqui e agora. Quão distantes estamos de textos como os três Cânticos Evangélicos registrados nos dois primeiros capítulos do Evangelho de Lucas, que bem poderiam servir de referência para todos os autores e ministros musicais: cantos nos quais o que sobressai é a dimensão coletiva da fé, que celebra a ação libertadora de Deus em favor de todo o povo; cantos em que o “eu” ou o “meu”, quando aparecem, chegam explicitamente carregados das esperanças de todo o povo, num forte sentimento de solidariedade com os oprimidos e excluídos da terra!; (n° 44).

23. Ênfase na militância – seja pelo exagerado militantismo: cantos que pregam com insistência a luta pela justiça social, pela superação dos problemas ecológicos e econômicos, mas que, nesta pretensão de promover o engajamento sociopolítico dos cristãos, empobrecem a sua experiência espiritual, ao não cultivar suficientemente as razões da Fé, a referência essencial a Jesus Cristo, a dimensão poética e orante do canto litúrgico. Os Salmos do Antigo Testamento e os muitos hinos que aparecem nos textos do Novo Testamento, bem como a longa tradição da Igreja, devem ser sempre ponto de referência para o canto de hoje também (n° 45).

O próprio documento da CNBB (n° 46), também convida cada um a se posicionar:

1. Por onde você tem passado, tem percebido alguma dessas falhas, dessas mazelas, desses problemas?

2. Revendo, com serenidade, sua própria atuação no campo da música litúrgica, reconhece alguma destas marcas negativas?

3. De tudo isso, quais os problemas que mais o desafiam, e qual poderia ser sua contribuição pessoal para que a Igreja local, onde você exerce o seu ministério musical, vá encontrando soluções eficazes?

Um desafio a cada um para que as assembléias litúrgicas sejam, de fato, celebrantes!

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