Prof. Felipe Aquino
O Vaticano retomou um tema importante em um novo pronunciamento através da “Sagrada Congregação da Fé” e da sua “Comissão Teológica Internacional”, onde deixa claro que os teólogos devem se submeter aos bispos porque são “os autênticos intérpretes da fé”.
O Vaticano retomou um tema importante em um novo pronunciamento através da “Sagrada Congregação da Fé” e da sua “Comissão Teológica Internacional”, onde deixa claro que os teólogos devem se submeter aos bispos porque são “os autênticos intérpretes da fé”.
O
documento é intitulado “Teologia hoje: Perspectivas, princípios e
critérios”, com 35 páginas, foi aprovado em novembro passado e sua
publicação foi autorizada pelo cardeal William Levada, Prefeito da
Congregação para a Doutrina da Fé, com o aval do Papa Bento XVI.
O
novo documento da Comissão Teológica Internacional propõe “critérios
metodológicos determinantes para a teologia católica em relação a outras
disciplinas afins, como as ciências religiosas”. E faz isso em três
capítulos:
a teologia pressupõe a escuta da palavra de Deus amparada na fé (capítulo 1);
se realiza em comunhão com a Igreja (2);
tem como fim dar razão à verdade de Deus (3).
Certamente
virão muitas criticas ao Papa e à Congregação da Fé por este documento,
especialmente por aquelas escolas de teologia que não obedecem o
Magistério da Igreja e não respeitam os dogmas como ensinamentos
perenes, e fazem teologia segundo os “seus” critérios e não os da
Igreja.
Mas a Santa Sé tem a missão de guardar “o deposito da fé”, a “sã
doutrina” (1Tim 1, 10; 6,20; Tt 1,9; 2,1.7) intacto como o recebeu de
Cristo. Os dogmas são as colunas e o fundamento da nossa fé, revelados por Deus, e não podem se alterados ou esquecidos. Quando era Prefeito da Congregação da Fé, em 1985, o atual papa disse:
“Numa
visão subjetiva da teologia, o dogma é muitas vezes considerado como
uma camisa-de-força intolerável, um atentado à liberdade do estudioso,
individualmente considerado. Perdeu-se de vista o fato de que a definição dogmática é , ao contrário, um serviço à verdade,
um dom oferecido aos crentes pela autoridade querida por Deus. Os
dogmas, disse alguém, não são muralhas que nos impedem a visão, mas ao
contrário, janelas abertas que dão para o infinito.” (A Fé em Crise? O
Cardeal Ratzinger se interroga”; J. Ratzinger/ V. Messori; Ed.
Pedagógica e Universitária LTDA; E.P.U.; 1985, pg. 49/50)
O
documento salienta que os teólogos, para realizar seu trabalho, devem
reconhecer a jurisdição dos bispos para “uma interpretação autêntica da
palavra de Deus transmitida pela escritura e a tradição”.
O documento da Santa Sé não trás nada de novo, mas
reafirma a necessidade dos teólogos não se afastarem dos dogmas da fé, o
que alguns mais “modernos” se arriscam. Se o trem sair do trilho,
descarrilha.
Falando aos membros da Comissão Teológica Internacional, em 2006, o Papa Bento XVI advertiu que os teólogos devem “procurar a obediência à verdade” e não desvirtuar a palavra e a alma “ao falar obedecendo à ditadura das opiniões comuns”. O Santo Padre lembrou que “falar
para encontrar aplausos, falar orientando-se ao que os homens querem
escutar, falar obedecendo à ditadura das opiniões comuns, considera-se
como uma espécie de prostituição da palavra e da alma”. (ACI, Vaticano, 06 out 06)
Disse
o Papa que “o teólogo deve seguir a disciplina dura da obediência à
verdade, que nos faz colaboradores” e “bocas da verdade”.
O
teólogo é um pesquisador que procura aprofundar o sentido das verdades
da fé reveladas por Deus através dos Patriarcas, dos Profetas e da
pregação de Jesus Cristo. Estas verdades estão na Tradição (=
transmissão) oral e nas Sagradas Escrituras. Por isso o teólogo estuda a
Bíblia Sagrada e suas ciências auxiliares (a lingüística, a
arqueologia, a história…) assim como os documentos emanados da Igreja
através dos séculos e a Filosofia, a fim de ilustrar e transmitir ao
Povo de Deus o conteúdo dos artigos da fé.
Em
24 maio 1990 a Congregação para a Doutrina da Fé, quando o seu
Prefeito era o Papa Bento XVI, publicou uma Instrução “Sobre a Vocação
Eclesial do Teólogo”, onde chama a atenção dos teólogos para vários
pontos importantes, como:
“O
teólogo, de modo particular, tem a função de adquirir, em comunhão com o
Magistério, uma compreensão sempre mais profunda da Palavra de Deus
contida na Escritura inspirada e transmitida pela Tradição viva da
Igreja” (N.º 6).
“O
objeto da teologia é dado pela Revelação, transmitida e interpretada na
Igreja sob a autoridade do Magistério, e acolhida pela fé. Descurar
estes dados, que têm valor de princípio, seria equivalente a deixar de
fazer teologia”. (n.12)
Portanto,
não é lícito a um teólogo opor-se ao Magistério da Igreja, A teologia
professa a assistência do Senhor ao Magistério da Igreja (cf. Jo 14,
15.25; 16,12-13), assistência de que ele, teólogo, pessoalmente não
goza.
Infelizmente
os maus teólogos recorrerem aos meios de comunicação para exercer
pressão sobre a opinião pública contra o Papa e a Santa Sé. A Instrução
alerta que a Igreja não é uma simples democracia onde tudo se resolve
pelo voto e pelo gosto da maioria:
“Não
se podem aplicar à Igreja, pura e simplesmente, critérios de conduta
que têm a sua razão de ser na sociedade civil ou nas regras de
funcionamento de uma democracia. Menos ainda se podem inspirar as
relações no interior da Igreja à mentalidade do mundo circunstante (cf.
Rm 12,2). Indagar da opinião da maioria o que convém pensar e fazer,
recorrer, à revelia do Magistério, à pressão exercida pela opinião
pública, aduzir como pretexto um consenso dos teólogos, sustentar
que o teólogo é o porta-voz profético de uma base ou comunidade
autônoma que seria assim a única fonte da verdade, tudo isto revela uma
grave perda do sentido da verdade e do sentido da Igreja” (n.º 39).
“O pluralismo não é legitimo a não ser na medida em que é salvaguardada a unidade da fé no seu significado objetivo” (n.º 34).
“Não
se pode recorrer aos direitos humanos para fazer oposição às
intervenções do Magistério. Um tal comportamento desconhece a natureza e
a missão da Igreja” (n.º 36).
“Falar
neste caso de violação dos direitos humanos não têm sentido, porque se
estaria desconhecendo a exata hierarquia desses direitos, como também a
natureza da comunidade eclesial e do seu bem comum. Além
disso, o teólogo que não está em sintonia com o “sentire cum Ecclesia”
se põe em contradição com o compromisso, livre e conscientemente
assumido por ele, de ensinar em nome da Igreja” (n.º 37).
“A argumentação que alude ao dever de seguir a própria consciência, não pode legitimar a dissensão.
Antes de tudo, porque este dever se exerce quando a consciência ilumina
o juízo prático em vista de uma decisão a ser tomada, enquanto aqui se
trata da verdade de um enunciado doutrinal. Além
disso, se o teólogo deve, como qualquer fiel, seguir a sua consciência,
ele é também obrigado a formá-la. A consciência não é uma faculdade
independente e infalível…
A reta consciência do teólogo católico supõe, portanto, a fé na Palavra
de Deus, cujas riquezas ele deve penetrar, mas também o amor à Igreja,
da qual ele recebe sua missão, e o respeito pelo Magistério divinamente
assistido” (n.º 38).
“Às
vezes, o Magistério pode ser levado a tomar graves providências, como,
por exemplo, quando retira a um teólogo que se afasta da doutrina da fé,
a missão canônica ou o mandato do ensinamento que lhe havia confiado,
ou ainda quando declara que alguns escritos não estão de acordo com esta
doutrina. Agindo dessa forma, o
Magistério entende ser fiel à sua missão, porque defende o direito do
Povo de Deus a receber a mensagem da Igreja na sua pureza e na sua
integridade, e, assim, a não ser perturbado por uma perigosa opinião
particular” (n.º 37).
“Às
vezes a dissensão recorre também a uma argumentação sociológica,
segundo a qual a opinião de um grande número de cristãos seria uma
expressão direta e adequada do senso sobrenatural da fé…
O fiel pode ter opiniões errôneas, porque nem todos os seus
pensamentos procedem da fé. Nem todas as ideias que circulam entre o
Povo de Deus são coerentes com a fé, tanto mais que podem facilmente
sofrer a influência de uma opinião pública veiculada pelos modernos
meios de comunicação” (n.º 35).
Enfim,
a missão do teólogo não é contestar as verdades de fé confirmadas pela
Igreja e seu Magistério, assistido permanentemente pelo Espírito Santo,
mas ajudar a Igreja a entendê-las cada vez melhor.
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