“Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus”, foi a inscrição que Pilatos mandou pôr sobre sua cabeça quando foi sentenciado à morte. Desde esse dia milhares de pessoas no mundo olham a cruz com devoção e fé. Passaram já vinte séculos de História e no entanto por esse Rei sentenciado à morte somos hoje como uma coroa humana de corações em louvor, em admiração, em obediência e em fervor para Cristo Rei, nosso Rei! Estávamos no ano 1925 de nossa era Cristã. Adivinha-se à distância outra guerra, a segunda mundial, mais espantosa que a primeira e que custaria 26 milhões de vidas. Naquela hora de dor o Papa Pio XI fez ouvir a sua voz e gritou: “A paz de Cristo, pelo reinado de Cristo!”. Com a encíclica chamada “Quas Primas”, o Papa instituía a Festa de Cristo Rei. Pio XI insistia na necessidade de reconhecer a autoridade universal de Cristo, porque a aceitação de Cristo faria desaparecer as divisões de pessoas, classes sociais, povos e nações, que acabaria com os ódios e deitaria por terra toda injustiça e toda a escravidão. Assim concluía o Papa: “é necessário que Cristo reine na mente dos homens, é necessário que Cristo reine na vontade dos homens, é necessário que reine nos corações dos homens, por um ardente amor à Ele; e é necessário que Cristo reine em nossos corpos e em nossos membros para que sirvam à paz externa da sociedade e à paz interna de nossas almas”.A festividade de Cristo Rei foi instituída liturgicamente no ano santo de 1925. Esta festa de Cristo Rei é pois das mais recentes da liturgia. Biblicamente
A Sagrada Escritura é quem apregoa a realeza de Cristo. Ressalta o título de Rei. O contexto do reino de Deus está posto desde as primeiras páginas do Gênesis até as últimas do Apocalipse. Seria uma longa tarefa percorrer os textos do Antigo Testamento que falam da realeza do Messias. Assim, Cristo é o novo Adão, que é a cabeça da nova humanidade. Cristo é o novo Moisés, constituído Salvador e libertador.
.Cristo é o novo Sansão que ninguém, nem as sete cordas da morte, puderam dominar.
Cristo é o novo Davi, rei ideal, cujo reino não terá fim.
Cristo é o novo Salomão, a sabedoria eterna e o encarregado de castigar o mal e de premiar o bem. E quando o reino de Davi faz oprimido, desterrado na Babilônia, levanta-se o profeta Daniel e vislumbra no horizonte um Rei e um reino plenos de grandeza.
“Eis aqui – diz o profeta – que sobre as nuvens do céu vem um filho do homem e foi-lhe dado todo o domínio, glória e reino, para que povos, nações e línguas o sirvam”.
Poderia Pedro responder ao que disse-lhe Jesus no Horto: “Guarda tua espada; se eu quisesse, meu Pai poria à minha disposição legiões de anjos para defender-me”. “Tu o disseste, eu sou o Rei”, respondeu Jesus a Pilatos, o governador romano, no mais solene interrogatório que os séculos já viram. Afirmação que Jesus repetirá horas mais tarde, cravado já na cruz, quando promete a um companheiro de suplício: “Hoje mesmo estarás comigo no meu Reino, no Paraíso”. Rei de um Reino muito especial
Sendo Jesus o Rei de toda a criação, da história do homem, sua realeza é universal. Por isso não podemos levá-lo a nível de ideologia humana, partidária, triunfalista; nenhuma realidade escapa à sua suprema judicatura.
Sim, seu reino chega justamente à consciência do homem para fazê-lo livre e mais apto para exercer seu domínio sobre o mundo.
O Reino de Jesus Cristo é de misericórdia, de bondade, de amor. Ele é um Rei cheio de mansidão, pacífico, que derrama sua influência benéfica sobre as pessoas, pela fé. O prefácio da missa de Cristo Rei, faz um belo resumo com estas frases: “Um reino universal e eterno. Um reino de verdade e de vida. Um reino de santidade e de graça. Um reino de justiça, amor e paz”. Cristo veio estabelecer seu Reino neste mundo. Como o seu reino não é deste mundo, tem que estabelecê-lo aqui no meio dos homens como o grande sacramento de salvação:
… como a vitória de Cristo sobre todo pecado e sobre todo o mal que aprisiona o mundo. Nós cristãos temos que desqualificar tudo o que vai contra o homem; separá-lo com nosso exemplo, nossa atitude, nossa oração e nossa palavra. Em suma, com o testemunho da nossa vida para que o reino de Jesus seja a história da verdade sobre o erro, da pureza sobre a corrupção, da vida sobre a morte…
A Festa de Cristo Rei No Domingo – o último do ano eclesiástico – confessamos a Jesus Cristo Rei e Senhor do universo. Rei e Senhor da criação inteira. O centro da história. A esperança da humanidade. Porque Cristo, que é a salvação de Deus para todos os homens, já inaugurou seu reino neste mundo. Comemoramos este mês a festa de um Rei que, paradoxalmente, proclama a simplicidade e a humildade. Sua festa tem que ser a ocasião de aprofundarmos na verdade mais essencial de nossa fé. Nesse dia encerramos o ano litúrgico e começamos o tempo ADVENTO. A Igreja convida-nos a concentrar nossa mente e coração nesse fundamento de nossa fé; Jesus Cristo, o Senhor. A festa de Cristo Rei é a coroação de todo o ciclo da liturgia eclesiástica, porque na figura de Cristo Rei, se resume toda a obra salvadora do Messias. Na realidade, já tínhamos celebrado na Semana Santa a festa da realeza de Cristo, o dia da Páscoa, porque em sua ressurreição Cristo assume o domínio sobre a nova Criação redimida. Na Ascensão ao céu também, porque nesse dia foi elevado para junto do Pai, e também em cada Domingo comemoramos o dia do Senhor ao celebrar a eucaristia.
Títulos de Jesus para ser Rei
O título de Rei nos lábios de Jesus, significa na ser Testemunha da Verdade. Da verdade total; não uma verdade filosófica, mas a verdade de Deus, a quem Jesus vem manifestar. Quando Jesus respondeu a Pilatos: “Tu o dizes, sou Rei”, matizou sua afirmação juntando imediatamente: “Eu para isso nasci; para isso vim ao mundo, para dar testemunho da Verdade. Todo o que é da verdade ouve minha voz… Essa é a Verdade de Deus.
Uma realidade eterna. Jesus se impõe por sua verdade”. Na festa de Cristo Rei do ano de 1979, dizia-nos o Papa João Paulo II: “Que maravilhoso é este Rei que renuncia a todos os sinais de poder, aos instrumentos do domínio e deseja reinar somente com a força da Verdade e do Amor! Com a força da convicção e do puro abandono. Rejeitou as formas do poder que condicionam o homem em suas dimensões interiores e que, inclusive, subordinaram-no a sistemas ideológicos sem levar em conta se estes sistemas correspondem a suas convicções”. “Maravilhoso este Rei, que rejeitou tais métodos de guiar o homem”. Todos os homens estão obrigados a buscar a verdade e uma vez conhecida, abraçá-la e praticá-la. O cristão é o homem que, em meio a tantas palavras, escolhe a única que não pode nos enganar: a palavra de Cristo. A palavra de Cristo desqualifica toda outra palavra que se apresente como salvadora. Ser testemunhas da verdade é, ao mesmo tempo, complexo e simples. É algo sempre duro e premente que não permite sutilezas nem evasões. Trabalhar pelo reinado de Jesus na sociedade, é lutar contra as mentiras, a falsidade, a hipocrisia, a difamação, a calúnia, a maldição. Viver na verdade, porque é a verdade que nos faz livres. Pertencer à verdade é viver na coerência com o conhecimento de Deus. O cristão, para dar testemunho da verdade, conta sempre com a ajuda do Espírito Santo, a Força do Alto, o Paráclito prometido e enviado por Jesus. Assim esse Rei-Juiz, Jesus, não se contenta com julgar e condenar. Sua preocupação é salvar e dar repouso. Jesus Cristo Rei é o Senhor.
O Pastor
Para os povos da antigüidade, a imagem do rei perfeito era o Pastor. O rei verdadeiro como o pastor, têm uma só preocupação: cuidar das ovelhas dispersas, abandonadas, fracas, feridas, enfermas… O rei é um pastor. Assim descreve-o o próprio Deus pela boca de Ezequiel, prometendo que na Era messiânica, o Filho de Davi, o Messias, serio o Rei-pastor do povo de Deus. “Eu mesmo apascentarei as minhas ovelhas”
O messias enviado será esse novo e eterno rei-pastor. Sim, Jesus é o Messias, o Rei-pastor: Ele, plano de ternura para cada uma de suas ovelhas, vela pela sã, cura a ferida, busca a perdida, cuida de todas. O Senhor é o Pastor de cada ovelha. É Ele quem garante a seu povo, que somos nós, a abundância e a segurança dos pastos de sua graça. Porque se “O Senhor é meu pastor, nada me falta!”. Ele é Juiz
Outro papel do rei, na antigüidade, era o de ser juiz. O rei devia administrar a justiça e devia exercê-la para cada um. O rei tinha a obrigação de visitar as diferentes comarcas do reino, sentar-se na praça pública para que todos lhes apresentassem suas queixas. Jesus é Rei, porque Ele é “o Juiz”. Ele se sentará no trono de sua glória e separará os maus dos bons, como o pastor separa as ovelhas das cabras. Qualquer que seja a convicção religiosa dos homens, qualquer que seja sua raça, sua idade, sua ocupação e sua cultura, Cristo nos convocará para o encontro final. Cabe a ele restaurar a justiça danificada pelos homens e separar o bem do mal. Cada vez que um homem quer fazer uma revisão de vida tem que confrontá-la com a de Cristo. A vida de Cristo é o veredicto, o juízo. Condena-nos ou aprova-nos. Jesus é, desta maneira, Salvador e Juiz. Por isso a vertente salvadora do juízo de Cristo é concedida hoje a todos os homens. Ele ajuda-nos com seu juízo salvador que examinemos nossas atitudes e atos de caridade. Jesus porém não se contenta com julgar e perdoar. Sua preocupação é salvar e dar repouso. É juiz-pastor em busca da ovelha perdida. Jesus Cristo é definitivamente o juiz, o Pastor, e não há outra norma de transformação.
É o Servo Paciente
Jesus é Rei pelo Senhorio alcançado através da cruz. “Nosso Senhor – diz São Paulo – comprou-nos por um grande preço”. Pela cruz fomos redimidos e essa cruz é perene lição de triunfo. Adquiriu-nos por seu sofrimento, e sua dor. Libertou-nos com seu sangue precioso como cordeiro imaculado e sem defeito. Seu propósito é, pois, destruir todos os poderes adversos à vida. Essa é a sua grande vitória. A hora do triunfo. A hora da cruz. Há um letreiro escrito em três idiomas (hebraico, grego e latim) para que ninguém o ignore: “Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus”. Rei através do sofrimento, da zombaria e do escárnio. A cruz cravada no Gólgota é seu trono, seu cetro, seu sólio real. Desse trono manifesta-se Rei-Messias, porque nesse preciso momento, da cruz, venceu a grande batalha em favor da humanidade. Às vezes sentimos a tentação de crer que neste mundo só têm eficácia a violência, o dinheiro, o poder, a força, a mentira e sentimo-nos tentados a dizer a Jesus: “desce dessa cruz!…” De dizer-lhe como Satanás: “Atira-te do pináculo do templo”… Cristo porém continua triunfando através do fracasso, do sofrimento, da ingratidão, da morte; só assim se ama e se constrói: no sacrifício da Cruz. Irmãos: não é súdito de Cristo rei aquele que empunha a sua espada como Pedro, mas aquele que, como o cireneu, tomou sua cruz e o seguiu. Não aquele que quer destrua seus inimigos, como Tiago e João, mas o que perdoa setenta vezes sete. Não o que passa ao largo ou dá uma volta na estrada como o sacerdote e o levita, mas o que carrega o desconhecido meio-morto e cura suas feridas. Não o que se crê justo, como o fariseu da parábola, mas aquele que com humildade baixa seus olhos e bate no peito, reconhecendo-se pecador como o publicano. Não o que vai ver Jesus à noite como Nicodemos, mas o que sai, valente e decidido, para secar o rosto de Jesus, como a Verônica. Não o que reza para ser visto e louvado, pelo povo, mas o que encerra-se no interior do coração para louvar a Deus.
… Enfim, não o que diz, Senhor, Senhor, mas o que cumpre a vontade do Pai do Céu.
Ele é o centro e a meta
Jesus, Rei do tempo e Rei da eternidade. Rei porque amor tanto o mundo que deu sua vida. Rei porque é o único que nos ama totalmente. O único que daria de novo sua vida por nós. Seu amor é tão sublime, que perdoa os seus verdugos. Que engendra uma nova raça de homens: os cristãos. O amor é o princípio da libertação, assim como o pecado e o egoísmo são o princípio da escravidão. Rei! Porque milhões e milhões de cristãos, seguindo suas pegadas por múltiplas gerações cristãs o proclamamos, livre, voluntária e alegremente Rei de nossos corações.
Podemos proclamá-lo Rei como em um prolongado e triunfante Domingo de Ramos, acompanhado de hosanas jubilosos e podemos tristemente como aquela turba daquela Sexta-feira Santa da História, gritar de novo: “fora com este! Não temos outro rei senão… Cesar!”. Nós, os súditos do Cristo Rei temos que inaugurar e promover seu reinado em nós, em nossas famílias, em nossos bairros, em nossas ruas, em nossos lugares de trabalho, em nossa paróquia, em nossa região e em nossa pátria. Só assim nossa vida será prova e testemunho de que o reconhecemos como o Rei e de que a Ele rendemos toda honra e toda a glória. Para um cristão a melhor e única maneira de viver o reino é a sua pertença a Igreja. Pertencer à Igreja não é uma forma de isolar-se mas de buscar o irmão. O cristão é o homem apaixonado pela verdade do homem. O interesse do homem é o interesse de Deus, o interesse de Deus, o interesse de Jesus. Toda a verdade do homem, tanto a íntima e afetiva, como a social e política, têm seu alicerce e perfeição em Cristo.
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