Assim como eu e os milhares de leitores
de minha coluna diária, todos possuímos preconceitos. Isso nem é de todo
uma desgraça. Alguns de nossos preconceitos são tolos e, talvez,
perniciosos, mas outros são, simplesmente, as regras necessárias pelas
quais vivemos.
"Pré-conceito" significa pré-julgamento:
ou seja, decisões a que chegamos rapidamente sem ter de pesar muito as
provas. Assim, se os "pré-conceitos" que temos são sensatos ou
insensatos, dependerá das fontes de nossas crenças e de nossas
preferências mais arraigadas.
É claro que uma pessoa pode nutrir
preconceitos tolos a respeito do tom da pele ou dos cabelos de outro ser
humano ou sobre a natureza de sua religião. Mas também é verdade, como
escreveu Edmund Burke (1729-1797), que por um sábio preconceito a
virtude se torne hábito.
Dessa maneira, povos de inclinações
saudáveis e de instrução moral decente alimentam um preconceito a
respeito do assassinato. Quando ouvimos que foi cometido um homicídio,
reagimos a partir de nossos pré-conceitos -- e é justo que o façamos.
Não perguntamos se o homem assassinado era bom ou se o assassino tinha
boas maneiras, ou (supondo que sintamos como se estivéssemos desferindo o
derradeiro golpe) podemos conseguir escapar sem sermos notados.
Diferente da personagem principal do romance de Fiódor Dostoiévski
(1821-1881), "O Idiota", não pesamos racionalmente os aspectos benéficos
e nocivos de um determinado assassinato para então decidir se iremos
eliminar outra vida humana.
Ao contrário, simplesmente obedecemos ao
mandamento "Não matarás", caso sejamos pessoas normais. Ao tomarmos
conhecimento de um assassinato, decidimos que independente das
circunstâncias particulares, o assassinato é mau e que a justiça deve
ser feita. Um preconceito sensato, adquirido desde cedo na vida, nos
informa que o assassinato é algo proibido e que não deve ser tolerado
por sentimentalismos.
Igualmente, somos capazes de manter uma
decente ordem social civil porque a maioria de nós age com base em
sábios preconceitos sobre roubo, crueldade e fraude. Não temos de
titubear e tentar ponderar as possíveis perdas e ganhos que encerram
atividades como a trapaça ou o espancamento do próximo. Se somos bons, a
maioria das pessoas é boa por ter hábitos morais. Não temos de realizar
uma espécie de cálculo todas as vezes em que somos compelidos a tomar
uma decisão moral.
Instilamos, deliberadamente,
preconceitos desejáveis desde o início da vida -- por exemplo, no ato de
dar umas palmadas caso nossos meninos persistam em chutar as canelas de
outros meninos. Pais prudentes, de modo acertado, criam suas crianças
com preconceitos a respeito de pequenos furtos em lojas, de estilhaçar
janelas e de atormentar os cães. Não ensinam aos seus rebentos a
perguntar: "Será que alguém vai me assistir torturando aquele
cãozinho?"ou "Não seria mais divertido que perigoso dar um jato d'água
na Sally?"
Permitam-me acrescentar que pais
saudáveis também tentam manter os filhos livres de falsos preconceitos. É
uma questão de discriminação precoce, mas criar alguém completamente
sem preconceito é educar de modo indeciso e totalmente imoral. Não é
errado ser preconceituoso com trapaceiros, mentirosos, fanáticos e
demagogos.
Traduzido do inglês por Márcia Xavier de Brito
O presente
ensaio foi publicado originalmente no livro "Confessions of a Bohemian
Tory: Episodes and Reflections of a Vagrant Career". New York: Fleet
Publishing Corporation, 1963.
Fonte: CIEEP: Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista.
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