Desde
os primeiros séculos os cristãos pintaram e esculpiram imagens de
Jesus, de Nossa Senhora, dos Santos e dos Anjos, não para adorá-las, mas
para venerá-las. As catacumbas e as igrejas de Roma, dos primeiros
séculos, são testemunhas disso. Só para citar um exemplo, podemos
mencionar aqui o fragmento de um afresco da catacumba de Priscila, em
Roma, do início do século III. É a mais antiga imagem da Santíssima
Virgem, uma das mais antigas da arte cristã, sobre o mistério da
Encarnação do Verbo. Mostra a imagem de um homem que aponta para uma
estrela situada acima da Virgem Maria com o Menino nos braços. O Catecismo da Igreja traz uma cópia dessa imagem (Ed. de bolso, Ed. Loyola, pag.19).
Este
exemplo mostra que desde os primeiros séculos os cristãos já tinham o
salutar costume de representar os mistérios da fé por imagens, em forma
de ícones ou estátuas. É o caso de se perguntar, então: Será que foram
eles “idólatras” por cultuarem essas imagens? É claro que não? Eles
foram santos, mártires, derramaram, muitos deles, o sangue em testemunho
da fé. Seria blasfêmia acusar os primeiros mártires da fé de idólatras.
No
século VIII, sob influência do judaísmo e do islamismo, surgiu um
movimento herético que se pôs a combater o uso das imagens. Eram os
iconoclastas. O grande e principal defensor do uso das imagens na época,
foi o santo e doutor da Igreja S. João Damasceno (de Damasco), falecido
em 749, o qual foi muito perseguido por se manter fiel e defensor dessa santa Tradição cristã.
A fim de dirimir as dúvidas sobre a questão, o Papa Adriano I (772-795) convocou o II Concílio Ecumênico de Nicéia, que se realizou de 24/09 a 23/10/787. Assim se expressou o Concílio, resolvendo para sempre a questão:
“Na
trilha da doutrina divinamente inspirada dos nossos santos Padres, e da
Tradição da Igreja Católica, que sabemos ser a tradição do Espírito
Santo que habita nela, definimos com toda a certeza e acerto que as
veneráveis e santas imagens, bem como a representação da cruz preciosa e
vivificante, sejam elas pintadas, de mosaico ou de qualquer outra
matéria apropriada, devem ser colocadas nas santas igrejas de Deus,
sobre os utensílios e as vestes sacras, sobre paredes e em quadros, nas
casas e nos caminhos, tanto a imagem de Nosso Senhor, Deus e Salvador,
Jesus Cristo, quanto a de Nossa Senhora, a puríssima e santíssima mãe de
Deus, dos santos anjos, de todos os santos e dos justos” (Catecismo da Igreja Católica, nº 1161).
Essas
palavras, por serem de um Concílio da Igreja, são ensinamentos oficiais
e infalíveis, e não podemos colocá-los em dúvida. O grande S. João
Damasceno dizia: “A beleza e a cor das imagens estimulam a minha oração. É uma festa para meus olhos, tanto quanto o espetáculo do campo estimula meu coração a dar glória a Deus “ (nº 1162).
O nosso Catecismo explica que: “A
imagem sacra, o ícone litúrgico, representa principalmente Cristo. Ela
não pode representar o Deus invisível e incompreensível; é a encarnação
do Filho de Deus que inaugurou uma nova “economia” das imagens”( 1159).
S. Tomás de Aquino (1225-1274) também defendia o uso das imagens, afirmando: “O
culto da religião não se dirige às imagens em si como realidades, mas
as considera em seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus
encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não
termina nela, mas tende para a realidade da qual é imagem“( 2131).
Muitos querem incriminar a Igreja Católica, afirmando que ela desrespeita a ordem que Deus deu a Moisés : “não vos pervertais, fazendo para vós uma imagem esculpida em forma de ídolo…” (Dt 4,15-16).
Os cristãos, desde os primeiros séculos, entenderam, sob a luz do Espírito Santo, que Deus nunca proibiu fazer imagens, e sim “ídolos”, deuses, para
adorar. O povo de Deus vivia na terra de Canaã, cercado de povos pagãos
que adoravam ídolos em forma de imagens (Baals, Moloc, etc). Era isso
que Deus proibia terminantemente. A prova de que Deus nunca proíbiu imagens, é que Ele
próprio ordenou a Moisés que fabricasse imagens de dois Querubins e que
também pintasse as suas imagens nas cortinas do Tabernáculo. Os
querubins foram colocados sobre a Arca da Aliança.
“Farás
dois querubins de ouro; e os farás de ouro batido, nas duas
extremidades da tampa, um de um lado e outro de outro… Terão esses
querubins suas asas estendidas para o alto e protegerão com elas a tampa
… “ (Ex. 25,18s, Ex 37,7; 1 Rs. 6,23; 2 Cr. 3,10).
“Farás
o tabernáculo com dez cortinas de linho fino retorcido, de púrpura
violeta sobre as quais alguns querubins serão artísticamente bordados”
(Ex. 26,1.31).
Que fique claro, de uma vez por todas, Deus nunca proibiu imagens, e sim, “fabricar
imagens de deuses falsos” . O mesmo Deus mandou que, no deserto, Moisés
fizesse uma imagem de uma serpente de bronze (Nm 21, 8-9), que
prefigurava Jesus pregado na cruz (Jo 3,14). Também o rei Salomão,
quando construiu o templo, mandou fazer querubins e outras imagens (I Rs
7,29). O culto que a Igreja Católica presta a Deus, e só a Deus, é um
culto chamado “latria”, isto é, de adoração. Aos anjos e santos é um
culto chamado “dulia”, de veneração. Maria, como Mãe de Deus recebe o
culto de “hiper-dulia”, super-veneração digamos, mas que está muito
longe da adoração devida só a Deus.
São Pedro, ao terminar a segunda Carta falava do perigo daqueles que interpretavam erroneamente as Escrituras: “Nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para a sua própria ruína, como o fazem também com as demais Escrituras” (2 Pe 3,16).
Infelizmente
isto continua a acontecer com aqueles que querem dar uma interpretação
individual à Palavra de Deus, sem autorização oficial da Igreja, levando
multidões ao erro. Só a Igreja é a autêntica intérprete da Bíblia (cf.Dei Verbum,10), pois foi ela que, inspirada pelo Espírito do Senhor (Jo 16,12), a compôs.
As
imagens, sempre foram, em todos os tempos, um testemunho da fé. Para
muitos que não sabiam ler, as belas imagens e esculturas foram como que o
Evangelho pintado nas paredes ou reproduzido nas esculturas. E assim há
de continuar a ser.
É
claro que o culto por excelência é prestado a Deus, mas isto não
justifica que as imagens sejam retiradas das nossas igrejas. Ao
contrário, elas nos lembram que aqueles que elas representam, chegaram à
santidade por graça e obra do próprio Deus. Assim, as imagens, dão,
antes de tudo, glória a Deus. Quando nos ajoelhamos diante de uma imagem
de um santo, ou da Virgem Maria, não é para adorar a imagem ou o santo,
mas para rezar a Deus, invocando a intercessão do santo.
Prof. Felipe Aquino – www.cleofas.com.br
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