A etimologia da palavra “bispo”, a sua jornada, os vícios que podem perturbar a sua missão, as relações com as más línguas, ou com o mundo midiático, ou com outras fés, ou com os não crentes: o cardeal Carlo Maria Martini reflete sobre tudo isso em seu novo livro, intitulado Il vescovo [O bispo] (Ed. Rosenberg & Sellier, 92 páginas).
Publicamos aqui um trecho da obra, divulgado no jornal Corriere della Sera, 22-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
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” Os evangelhos não falam longamente da incredulidade, porque naquela tempo ela não estava na moda. Hoje, nos definimos com prazer como ateus ou agnósticos, ou pessoas indiferentes ao problema de Deus. Não devemos nos iludir que, mesmo nas dioceses mais tradicionais, são numericamente poucos aqueles que pertencem a essas categorias, assim como aqueles que vivem de fato longe de qualquer atividade pastoral. Estes recebem informações sobre a Igreja sempre filtradas pelos jornais ou pela televisão, onde é trendy – isto é, na moda – falar com frieza ou arrogância de coisas religiosas.
O arcebispo Montini, que ocupou a cátedra de Santo Ambrósio por mais de oito anos e depois se tornou o Papa Paulo VI, constantemente se fazia a pergunta: “O que o homem moderno pensará ou entenderá do que eu digo?”Importava muito a impressão que o seu discurso e a sua ação podiam criar sobre os não crentes e os não praticantes.
O bispo deverá se lembrar que foi enviado a uma Igreja local, isto é, a uma Igreja existente em um lugar onde não nem todos hoje podem se considerar cristãos autênticos. Isso determinará sobretudo a sua linguagem, porque ela deverá ser entendida o máximo possível até por aqueles que não acreditam ou não praticam.
O bispo deverá aprenderá a distinguir entre as pessoas apáticas ou arrastadas pela deriva das modas e os interlocutores cuidadosos e atentos aos valores. Ele pode fazer muito por estes últimos. É importante que ele reflita muito sobre essa sua responsabilidade e pense nos instrumentos dos quais pode se servir para ir ao encontro dessas pessoas.
Pessoalmente, em Milão, eu instituí a Cátedra dos Não Crentes, com a qual eu entendia que também poderia pôr em cátedra os não crentes e aprender a escutá-los, mesmo que com uma escuta crítica. Uma das coisas as quais eu estava mais atento era que não se fizesse apenas uma lição acadêmica, mas que o relator soubesse escutar dentro de si as palavras que um rabino disse a alguém que o assediava com argumentos contra a existência de Deus: “Mas talvez seja verdade”.
É claro que a Cátedra dos Não Crentes pressupõe um ouvinte atento e qualificado, que exerça um juízo crítico sadio. O bispo julgará se se sente apto a propor um tal exercício um pouco “inquietante”. Também por isso eu pedia que as irmãs, assim como as pessoas chamadas “da paróquia”, não fossem.
Pouco a pouco, mudei um pouco a fórmula para aquela que consiste em colocar a não fé e a fé em contato com os grandes problemas do mundo. Normalmente, eu me reservava a conferência conclusiva, que consistia em expressar em voz alta os pensamentos e os sentimentos que as conferências anteriores tinham me suscitado. Repensando isso, parece-me que esses encontros me ajudaram muito a ampliar a mente e a saber ouvir, sem preconceitos, os argumentos de cada um. (…)
Entre as acusações mais frequentemente dirigidas contra a Igreja há aquela de ser rica .Na Itália, a Igreja possui muitas obras de arte, igrejas e palácios importantes, embora, todos os dias, ela custe a encontrar o dinheiro necessário para pagar os seus colaboradores leigos, por exemplo os sacristães. Vendendo algumas dessas obras, se poderia obter muito dinheiro. Mas nós somos considerados responsáveis por esse tesouro: portanto, não é lícito renunciar a eles.
Fonte:blogcarmadelio
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