Defendendo os deuterocanônicos
Quando católicos e protestantes falam sobre a Bíblia, os dois grupos atualmente possuem dois livros diferentes .
No século 16, os reformadores protestantes removeram uma parte do Antigo Testamento que não era compatível com a sua teologia. Diziam que estes livros não eram inspirados e os chamaram de "apócrifos".
Os católicos se referem a eles como "deuterocanônicos" (pois foram disputados por alguns autores e sua canonicidade foi estabelecida mais tarde que o resto), enquanto que os demais livros são chamados de "protocanônicos" (sua canonicidade foi estabelecida primeiro).
Seguindo o argumento protestante sobre a integridade da Bíblia, a Igreja Católica reafirmou a inspiração divina dos livros deuterocanônicos no Concílio de Trento em 1546. Fazendo isto, ela reafirmou o que já havia sendo crido desde os tempos primitivos.
Quem organizou o Antigo Testamento?
A Igreja não nega que aqui existem alguns livros que são realmente "apócrifos". Durante a era da igreja primitiva, existiam manuscritos que supunham ser inspirados, mas não eram. Muitos chegaram até nós, como o "Apocalipse de Pedro" e o "Evangelho de Tomé", cujas igrejas cristãs rejeitaram como não pertencendo às Escrituras.
Durante o primeiro século, os judeus discordavam sobre a constituição do cânon das Escrituras. De fato, havia muitos "cânons" sendo usados, incluindo livros usados por cristãos. Para combater a disseminação do rito cristão, os rabinos se encontraram na cidade de Jâmnia em 90 d.C. para determinar quais os livros que continham as verdadeiras palavras de Deus.
Pronunciaram-se afirmando que muitos
livros, incluindo os Evangelhos, eram impróprios para serem considerados
Escritura Sagrada.
Este cânon também excluiu 7 livros
(Baruc, Sirácida, 1 e 2 Macabeus, Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão,
e algumas porções de Daniel e Esther) que os cristãos consideravam como
parte do Antigo Testamento.
O grupo de judeus que estavam em Jâmnia tornou-se o grupo dominante no decorrer da história judaica, e hoje muitos judeus aceitam tal cânon. Entretanto, alguns judeus, como os da Etiópia, seguiam um cânon diferente, e idêntico ao cânon Católico do Antigo Testamento, pois incluíam os sete livros deuterocanônicos (cf. Enciclopédia Judaica, vol 6, p. 1147).
Não é necessário dizer que a Igreja não aderiu ao resultado de Jâmnia – Motivos:
1)- Primeiro, um Concílio judaico após a época de Cristo não guarda ligações com os seguidores de Cristo.
2)- Segundo, Jâmnia rejeitou
precisamente os documentos que constituíam a base da Igreja Cristã - os
Evangelhos e outros documentos do Novo Testamento.
3)- Terceiro, rejeitando os deuterocanônicos, Jâmnia rejeitou livros
que foram usados por Jesus e os apóstolos e que estavam contidos na
edição da Bíblia que os apóstolos usaram no dia-a-dia - a Septuaginta.
Os apóstolos e os deuterocanônicos
A aceitação pelos cristãos dos deuterocanônicos era lógica porque estes estavam incluídos na Septuaginta, a versão grega do Antigo Testamento que os apóstolos usaram para evangelizar.
Dois terços das citações do Antigo
Testamento no Novo são oriundos da Septuaginta. Em nenhuma parte os
apóstolos falaram aos seus discípulos ou convertidos para evitar estes
sete livros ou alguma doutrina contida nele.
Assim como os judeus pelo mundo que usam a versão da Septuaginta, os primeiros cristãos aceitaram os livros encontrados nela.
Sabiam que os apóstolos não iriam
engana-los ou arriscar suas almas colocando falsas Escrituras em suas
mãos - especialmente não os avisando contra isto.
Mas os apóstolos não colocaram os deuterocanônicos nas mãos de seus convertidos simplesmente como parte da Septuaginta.
Eles regularmente citavam-nos em seus escritos:
Por exemplo, Hebreus 11 nos
encoraja a imitar os heróis do Antigo Testamento e no Antigo Testamento
"mulheres houve, até, que receberam ressuscitados os seus mortos. Alguns
foram torturados, rejeitados, não querendo o seu resgate, para
alcançarem melhor ressurreição" (Hb 11,35).
Existem alguns exemplos de mulheres recebendo de volta seus mortos pela ressurreição no Antigo Testamento protestante.
Você pode achar Elias ressuscitando o
filho da viúva de Sarepeta em 1 Reis 17, e você pode achar seu sucessor
Eliseu ressuscitando o filho da mulher sunamita em 2 Reis 4,
Mas uma coisa não se poderá achar -
em nenhum lugar no Antigo testamento protestante, do começo ao fim, de
Gênesis a Malaquias - alguém é torturado e rejeita o seu resgate para
alcançarem melhor ressurreição.
Querendo achar tal fato, deve procurar
no Antigo Testamento da Bíblia católica - justamente nos livros
deuterocanônicos que Martinho Lutero Retirou de sua Bíblia.
Esta história é encontrada em 2 Mac 7, onde lemos que durante a perseguição dos Macabeus,
"Aconteceu também que, tendo sido
presos sete irmãos com sua mãe, o rei os queria obrigar a comer carne de
porco contra a lei...os outros irmãos exortavam-se mutuamente com sua
mãe, a morrerem corajosamente, dizendo: 'O Senhor Deus vê e consola-se
em nós'...Morto deste modo o primeiro, levaram o segundo ao
suplício...respondendo na língua dos seus pais, disse: Não! Pelo que
este também padeceu os mesmos tormentos que o primeiro. Estando já para
dar o último suspiro, disse desta maneira: 'tu ó malvado, faze-nos
perder a vida presente, mas Deus, o Rei do universo, nos ressuscitará
para a vida eterna, a nós que morremos, por fidelidade às suas leis" (2 Mac 7,1.5-9).
Os filhos morreram um por um, proclamando que eles serão recompensados pela ressurreição. "Entretanto a mãe deles, sobremaneira admirável e digna de memória, vendo morrer os seus sete filhos em um só dia, suportou heroicamente a sua morte, pela esperança que tinha no Senhor. Cheia de nobres sentimentos, exortava, na língua dos seus pais, a cada um deles em particular, dando firmeza... Dizia-lhes: 'não sei como fostes formados em meu ventre; não fui eu quem vos deu o espírito e a vida, ou que formei os membros do vosso corpo. O criador do mundo, que formou o homem no seu nascimento e deu a origem a todas as coisas, vos tornará a dar o espírito e a vida, por sua misericórdia, em recompensa do quanto agora vos desprezais a vós mesmos, por amor das suas leis", Diz o último irmão, "Não temas este algoz, mas sê digno de teus irmãos, aceita a morte, para que eu te encontre com eles no dia da misericórdia" (2 Mac 7,20-23.29).
Este é uma das referências do Novo Testamento aos deuterocanônicos.
Os primeiros cristãs reconheciam
amplamente estes livros como Escrituras Sagradas, não somente porque os
apóstolos os colocaram em suas mãos, mas porque também se referiram a
eles no próprio Novo Testamento, citando o que recordavam como exemplos a
serem seguidos.
Os Pais falam
A aceitação dos deuterocanônicos é evidente ao longo da história da Igreja. O historiador protestante J.N.D. Kelly escreve:
"Deveria ser observado que o Antigo
Testamento admitido como autoridade na Igreja era algo maior e mais
compreensivo que o Antigo Testamento protestante...ela sempre incluiu,
com alguns graus de reconhecimento, os chamados apócrifos ou
deuterocanônicos. A razão para isso é que o Antigo Testamento que passou
em primeira instância nas mãos dos cristãos era... a versão grega
conhecida como Septuaginta... a maioria das citações nas Escrituras
encontradas no Novo Testamento são baseadas nelas preferencialmente do
que a versão hebraica... nos primeiros dois séculos... a Igreja parece
ter aceitado a todos, ou a maioria destes livros adicionais, como
inspirados e trataram-nos sem dúvida como Escritura Sagrada. Citações de
Sabedoria, por exemplo, ocorrem em 1 Clemente e Barnabé... Policarpo
cita Tobias, e o Didache cita Eclesiástico. Irineu se refere a
Sabedoria, a história de Susana, Bel e o dragão (livro de Daniel), e
Baruc. O uso dos deuterocanônicos por Tertuliano, Hipólito, Cipriano e
Clemente de Alexandria é tão freqüente que referências detalhadas são
necessárias" (Doutrina Cristã Antiga, 53-54).
O reconhecimento dos deuterocanônicos como parte da Bíblia dada pessoalmente pelos pais também foi conferida por esses mesmos pais como uma regra, quando se encontravam nos Concílios da Igreja.
Os resultados dos Concílios são
especialmente úteis porque não representam a visão de uma só pessoa, mas
o que fora aceito pelos líderes da Igreja de todas as regiões:
Católicas e Ortodoxas ( Que são separados dos Católicos).
O cânon das Escrituras, Antigo e Novo Testamento, foi fixado definitivamente no Concílio de Roma em 382, sob a autoridade do Papa Damaso I.
E foi logo reconhecido por sucessivos
Concílios, tanto regionais como gerais. O mesmo cânon foi firmado no
Concílio de Hipona em 393 e no de Cartago em 397. O fato destes
Concílios não serem "ecumênicos" não rejeita o fato de suas decisões não
serem aceitos como baseadas em verdade de fé. Em 405 o Papa Inocêncio I
reafirmou o cânon em uma carta ao bispo Exuperius de Toulouse.
Outro Concílio de Cartago, este no ano
de 419, reafirmou o cânon como os seus predecessores e pediu ao papa
Bonifácio que "confirme este cânon, pois estas são as que recebemos de
nossos pais para serem lidos na Igreja". Todos estes canos formavam a
mesma Bíblia católica atual, todos eles incluindo os deuterocanônicos.
Este mesmo cânon foi implicitamente confirmado no sétimo Concílio Ecumênico, o de Nicéia II (787), que aprovou os resultados do Concílio de Cartago de 419, e explicitamente reafirmou nos Concílios Ecumênicos de Florença (1442), Trento (1546), Vaticano I (1870) e Vaticano II (1965).
Este mesmo cânon foi implicitamente confirmado no sétimo Concílio Ecumênico, o de Nicéia II (787), que aprovou os resultados do Concílio de Cartago de 419, e explicitamente reafirmou nos Concílios Ecumênicos de Florença (1442), Trento (1546), Vaticano I (1870) e Vaticano II (1965).
As acusações protestantes
Os deuterocanônicos mostram doutrinas da Igreja Católica, e por esta razão eles foram retirados do Antigo Testamento por Lutero e colocados como apêndice sem números de páginas! Lutero também retirou livros do Novo Testamento - Hebreus, Tiago, Judas e Apocalipse - e os colocou como apêndice, sem páginas, da mesma forma que os outros.
Estes foram mais tarde recolocados de
volta no Novo Testamento por outros protestantes, mas os 7 livros do AT
foram deixados de fora (Com que autoridade ? – Pois a autoridade
de Ligar e desligar (Mateus 16,18) não foi dada a Luteri que era um mero
Monge, e sim ao sucessor de Pedro: Os Papas).
Em 1827, o British and Foreign Bible Society
retirou também este apêndice, sendo este o motivo pelo qual não são
encontrados nas Bíblias protestantes mais contemporâneas, apesar de
ainda serem encontradas em traduções protestantes clássicas, como a King
James Version.
A razão porque eles foram retirados é que ensinam doutrinas católicas que os protestantes rejeitam. Acima citamos um exemplo onde a carta aos Hebreus nos mostra um exemplo do Antigo Testamento contido em 2 Mac 7, um incidente não encontrado em nenhuma Bíblia protestante, mas facilmente localizada na Bíblia católica.
Porque Lutero teria retirado este livro se ele claramente serviu de fonte para aquela parte do Novo Testamento?
Simples: alguns capítulos mais adiante o
livro apóia a prática da oração às almas dos mortos para que sejam
purificados das conseqüências dos seus pecados (2 Mac 12,41-45); em
outras palavras, a doutrina católica do purgatório.
Desde que Lutero rejeitou o ensino
histórico do purgatório (que data de antes de Cristo, como mostra o
livro de Macabeus), ele teve que retirar este livro da Bíblia e
coloca-lo como apêndice. (Note que ele também retirou Hebreus, o livro
que cita 2 Macabeus, e o colocou também como apêndice).
Para justificar esta rejeição a livros que estavam na Bíblia desde tempos antes dos apóstolos (a Septuaginta foi escrita antes dos apóstolos), os primeiros protestantes recorreram ao fato de que os judeus daqueles dias não honraram tais livros, retornando assim ao Concílio de Jâmnia.
Mas os reformadores estavam
atentos apenas aos judeus europeus; não prestando a devida atenção aos
judeus africanos, como os etíopes, que aceitavam os deuterocanônicos
como parte de sua Bíblia.
Eles censuraram as referências ao
deuterocanônicos no Novo Testamento, assim como seu uso da Septuaginta.
Ignoraram o fato de que existiam múltiplos cânnos judaicos circulando no
primeiro século, apelando a um Concílio judaico pós-cristão que não
possuía nenhuma autoridade para com os cristãos para se falar que "os
judeus não aceitaram estes livros".
Na verdade, foram longe tentar buscar algo que suportasse a rejeição a estes livros da Bíblia.
Reescrevendo a história da Igreja
Anos mais tarde eles até iniciaram a propagação do mito de que a Igreja Católica "adicionou" estes sete livros à Bíblia no Concílio de Trento.
Os protestantes também tentaram distorcer as evidências patrísticas em favor do deuterocanônicos.
Alguns superficialmente afirmam que os
Pais da Igreja não os aceitavam, enquanto outros fazem reivindicações
comedidas que certos importantes pais, como Jerônimo, também não os
aceitava.
É verdade que Jerônimo, e poucos e isoladas escritores, não aceitavam alguns deuterocanônicos como inspirados. Entretanto, Jerônimo fora persuadido, contra sua convicção original, a incluir os deuterocanônicos em sua edição Vulgata pelo fato de que os livros eram comumente aceitos e era esperado que fossem incluídos em todas as edições da Bíblia.
Além do mais, deve ser documentado que em anos mais tarde Jerônimo de fato aceitou certos deuterocanônicos como inspirados.
Em sua resposta a Rufino, ele defendeu
bravamente as partes deuterocanônicas de Daniel mesmo que os judeus de
seu tempo não o fizessem.
Jerônimo escreveu:
"Que pecado eu cometi se segui o
julgamento da Igreja? Mas ele que traz acusações contra mim por relatar
as objeções a que os judeus estavam acostumados a formar contra a
história de Susana... e a história de Bel e o dragão, que não se acham
nos volumes hebraicos, provam que ele é apenas um bajulador insensato.
Eu não estava relatando minha própria visão, mas antes as questões que
eles (os judeus) estavam acostumados a fazer contra nós" (Contra Rufinus 11,33 [402 d.C.]).
Desta forma Jerônimo reconheceu o princípio pelo qual o cânon foi fixado - o julgamento da Igreja, não dos judeus.
Outros escritores protestantes citam como objeção aos deuterocanônicos, que Atanásio e Orígenes não os aceitavam.
Ora, Atanásio aceitava o livro de Baruc
(Festal Letter 39) e Orígenes aceitava todos os deuterocanônicos, mas
simplesmente recomendava não os usar nos debates com os judeus.
Contudo, apesar de alguns disparates e hesitações de alguns escritores como Jerônimo, a Igreja permaneceu firme em sua afirmação histórica sobre os deuterocanônicos como inspirados e vindos com os apóstolos.
O protestante J.N.D. Kelly afirma isto apesar da dúvida de Jerônimo:
"Pela grande maioria, porém, os escritos deuterocanônicos atingiram o grau de inspirados com o máximo de senso. Agostinho,
por exemplo, cuja influência no ocidente foi decisiva, não fazia
distinção entre eles e o resto do Antigo Testamento... a mesma atitude
com os apócrifos foi demonstrada nos Sínodos de Hipona e Cartago em 393 e
397, respectivamente, e também na famosa carta do papa Inocêncio I ao bispo de Toulouse Exuperius, em 405" (Doutrina Cristã Antiga, 55-56).
Este é, portanto, um grande mito pelo qual os protestantes acusam os católicos de terem "adicionado" os deuterocanônicos à Bíblia no Concílio de Trento.
CONCLUSÃO:
Estes livros estavam na Bíblia antes de o cânon pretender ser definido,
o que ocorreu só em 380 d.C. tudo o que Trento fez foi reafirmar, em
face dos ataques protestantes à Bíblia católica, o que tem sido a
histórica Bíblia da Igreja - a edição padrão seria a Vulgata de
Jerônimo, incluindo os deuterocanônicos!
Os deuterocanônicos do Novo Testamento:
É irônico que os protestantes rejeitem a inclusão dos deuterocanônicos pelos Concílios de Hipona e Cartago, porque nestes Concílios da Igreja antiga também foram definidos os livros do Novo Testamento.
Principalmente pelo ano 300 havia uma ampla discussão sobre quais livros exatamente deveriam pertencer ao Novo Testamento.
Alguns livros, como
os Evangelhos, Atos e a maioria das cartas de Paulo foram rapidamente
aceitos. Contudo alguns livros, mais notavelmente Hebreus, Tiago, 2
Pedro, 2 e 3 João, e Apocalipse permaneceram em ardente disputa até que o
cânon foi fixado. São, de fato, "deuterocanônicos do Novo Testamento".
Enquanto os protestantes aceitam o testemunho dos Concílios de Hipona e Cartago (os Concílios que eles mesmos mais citam) para a canonicidade dos deuterocanônicos do Novo Testamento, não estão dispostos a aceitar o testemunho dos mesmos Concílios para a canonicidade dos deuterocanônicos do Antigo Testamento.
Enquanto os protestantes aceitam o testemunho dos Concílios de Hipona e Cartago (os Concílios que eles mesmos mais citam) para a canonicidade dos deuterocanônicos do Novo Testamento, não estão dispostos a aceitar o testemunho dos mesmos Concílios para a canonicidade dos deuterocanônicos do Antigo Testamento.
Realmente irônico e extremamente contraditório (Só aceitam em parte a autoridade Judaica Por que ?).
Autor: James Akin
Fonte: Catholic Information Network
Tradução: Rondinelly Ribeiro
Do Guia de blogs católicos