A
Igreja valoriza a ciência em todas as suas áreas, mas não se cansa de
afirmar que nem tudo que é possível à ciência e à tecnologia realizarem é
ético e moral. O parâmetro de discernimento da Igreja é a Lei Natural
que Deus colocou de forma permanente e universal nos corações e nas
consciências das pessoas.
Para a Igreja o que não é natural não é
moral, e deve ser evitado. Especialmente quando a dignidade da vida
humana está em jogo, a Igreja levanta a voz, em nome de Deus, para dizer
ao homem que tenha prudência. O Catecismo da Igreja afirma no §2294,
que: “É ilusório reivindicar a neutralidade moral da pesquisa científica
e de suas aplicações…”A Igreja sempre
estimulou os estudiosos a procurarem pela ciência ajudar a vida do homem
na terra. Mas o Cristianismo tem uma escala de valores onde o homem,
por ser imagem e semelhança de Deus, ocupa um lugar especial, não
podendo ser equiparado, em dignidade, a nenhum outro ser vivo. Assim, os
resultados da ciência devem servir ao homem e respeitar a sua
dignidade. Assim, a Igreja defende que a vida humana é um dom de Deus,
sobre o qual o cientista não têm domínio absoluto; ela deve nascer e
desenvolver-se não em laboratório, nem como fruto de recursos técnicos,
mas como fruto direto do relacionamento pessoal entre esposo e esposa.
O desejo do progresso da ciência parece
às vezes insaciável a alguns homens e mulheres de hoje. Em parte, o
orgulho humano, o desejo de ser Prometeu (um rival de Deus) está na base
de muitas tentativas da ciência sem compromisso com a consciência
moral. A ciência e a técnica não são fins; são meios para engrandecer o
homem, para que ele viva melhor, mas a ciência e a técnica não podem
servir ao orgulho ou deleite do pesquisador, ou mesmo ser fonte de
enriquecimento, em prejuízo para a dignidade do homem. A ciência deve
trabalhar para o homem, e não contra o homem.
O
emprego da ciência contra o homem tem sua causa no abandono de Deus.
Michel Foucault, conhecido filósofo, observa que a “morte de Deus” gera a
morte do homem: “Em nossos dias… não é tanto a ausência ou a morte de
Deus que é afirmada, mas o fim do homem…; descobre-se então que a morte
de Deus e o último homem estão estreitamente ligados” (Les mots et les
choses 1967, p. 369).
Um personagem de Dostoiewisky, no livro
“Irmãos Karamazov”, declara que “se Deus não existe, tudo é permitido”,
pois a morte põe fim a tudo. A sociedade atual, que quer negar Deus,
vive, neste triste ambiente, de desconfiança, insegurança, egoísmo e
desespero, desembocando, na violência, nas drogas, nos desvios sexuais,
na desesperança, e no profundo vazio existencial que leva à depressão.
A ciência moderna é produto genuíno de uma visão judaico-cristã do mundo e tem sua fonte de inspiração na Bíblia.
A visão pagã do mundo é a de um escravizante ciclo de nascimento-morte-renascimento, sem início nem fim, uma visão cíclica, onde a ciência não conseguia fazer progresso. Foi justamente a visão do cosmos, progressiva, derivada da doutrina cristã, que deu margem ao crescimento da ciência.
A visão pagã do mundo é a de um escravizante ciclo de nascimento-morte-renascimento, sem início nem fim, uma visão cíclica, onde a ciência não conseguia fazer progresso. Foi justamente a visão do cosmos, progressiva, derivada da doutrina cristã, que deu margem ao crescimento da ciência.
Paulo VI afirmou que “a ciência é
soberana em seu campo, mas escrava com respeito ao homem”. Por isso,
devemos rejeitar a noção falsa de uma ciência livre dos valores morais,
ou a neutralidade moral da investigação científica e de suas aplicações.
Para que o leitor conheça alguns
posicionamentos da Igreja no campo Moral, apresento em seguida alguns
itens do Catecismo da Igreja Católica sobre este assunto.
O filósofo romano Cícero já dizia, e sua
República, que: “Existe sem dúvida uma verdadeira lei: é a reta razão.
Conforme à natureza, difundida em todos os homens, ela é imutável e
eterna; suas ordens chamam ao dever; suas proibições afastam do
pecado.(…) É um sacrilégio substituí-la por uma lei contrária; é
proibido não aplicar uma de suas disposições; quanto a ab-rogá-la
inteiramente, ninguém tem a possibilidade de fazê-lo” (Rep. 3, 22, 33).
A Igreja não tem dúvida em afirmara que:
“A lei natural é imutável, permanece através da história. As regras que a
exprimem são substancialmente sempre válidas. Ela é uma base necessária
para a edificação das regras morais e para a lei civil (§1979). Esta
Lei, que de modo especial está retratada nos Dez Mandamentos, exprime o
sentido moral original, que permite ao homem discernir, pela razão, o
que é o bem e o mal, a verdade e a mentira.
Como disse o Papa Leão XIII: “A lei
natural se acha escrita e gravada na alma de todos e cada um dos homens
porque ela é a razão humana ordenando fazer o bem e proibindo pecar. (…)
Mas esta prescrição da razão não poderia ter força de lei se não fosse a
voz e o intérprete de uma razão mais alta, a qual nosso espírito nossa
liberdade devem submeter-se” (Leão XIII, enc. Libertas
praestantissimum).
São Tomás de Aquino dizia que: “A lei
natural outra coisa não é senão a luz da inteligência posta em nós por
Deus. Por ela conhecemos o que se deve fazer e o que se deve evitar.
Esta luz ou esta lei, deu-a Deus à criação” (Decem praec. 1). Com base
nisso a Igreja ensina que: “Presente no coração de cada homem e
estabelecida pela razão, a lei natural é universal em seus preceitos, e
sua autoridade se estende a todos os homens. Ela exprime a dignidade da
pessoa e determina a base de seus direitos e de seus deveres
fundamentais (Cat. §1956).
Santo Agostinho exclamava: “O roubo é
certamente punido por vossa lei, Senhor, e pela lei escrita no coração
do homem e que nem mesmo a iniqüidade consegue apagar” (Confissões,
2,4,9). Portanto, há uma lei natural imutável (GS,10) e permanente
através das variações da história. As regras que a exprimem permanecem
substancialmente válidas. Mesmo que alguém negue até os seus princípios,
não é possível destruí-la nem arrancá-la do coração do homem; é obra do
Criador, e que fornece os fundamentos sólidos em cima dos quais pode o
homem construir o edifício das regras morais que orientarão suas opções.
Com base na lei natural São Tomás dizia
que: “Não se pode justificar uma ação má, embora feita com boa intenção”
(Decem. prec. 6). O fim não justifica os meios. O ato moralmente bom
supõe, ao mesmo tempo, a bondade do objeto, da finalidade e das
circunstâncias.
Assim, a Igreja, “coluna e sustentáculo
da verdade” (1Tm 3,15), recebeu dos Apóstolos o mandamento de Cristo de
pregar a verdade da salvação. Por isso, diz o Código de Direito
Canônico: “Compete à Igreja anunciar sempre e por toda parte os
princípios morais, mesmo referentes à ordem social, e pronunciar-se a
respeito de qualquer questão humana, enquanto o exigirem os direitos
fundamentais da pessoa ou a salvação das almas” (cân. 747,2)
Prof. Felipe Aquino
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