Falando da Igreja o Concílio nos ensina que: “Esta é a ÚNICA Igreja de Cristo que no símbolo confessamos una, santa, católica e apostólica” (LG, 8). Esses atributos indicam os traços essenciais, característicos, da Igreja e da sua missão, e foi Cristo que assim o quis para ela. Sem essas quatro condições não existe a igreja de Cristo, pois foram dadas por Ele mesmo. São essas características da Igreja que garantem a sua credibilidade de dois mil anos, ea certeza de sua missão divina. A unidade e unicidade da Igreja vêm da própria unidade da Trindade Santa. O único povo de Deus no Antigo Testamento (Israel) se prolonga no único povo de Deus no Novo Testamento (a Igreja). Cristo tem um só Corpo e uma só Esposa, daí vem a exigência monogâmica do matrimônio cristão, que é espelho da união de Cristo com a sua única Esposa. “Deste mistério, o modelo Supremo eo princípio é a unidade de um só Deus na Trindade de Pessoas, Pai e Filho no Espírito Santo” (UR ,2). Jesus, com a sua cruz, reconciliou os homens todos com Deus, restabelecendo a união de todos com o Pai em uma só “família de Deus” (Ef 2,20). É o Espírito Santo que realiza essa unidade, habitando em cada batizado, os une intimamente a Cristo num só Corpo, formando um só Povo. São Clemente de Alexandria (215) expressou bem esse mistério dizendo: “Que estupendo mistério! Há um único Pai do universo, um único Logos do universo e também um único Espírito Santo, idêntico em todo lugar; há também uma única virgem que se tornou mãe, e me agrada chamá-la Igreja” (CIC nº 813). São Paulo também expressa de muitas maneiras a unidade da Igreja. Aos coríntios ele afirma: “Por isso, se um membro sofre, todos os membros padecem com ele; ou se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele” (1Cor 12,26). Na Igreja, portanto, não há lugar para ciúmes, competições e rivalidades, pois formamos um só Corpo de Cristo. “Ora vós sois o Corpo de Cristo e cada um, de sua parte, é um dos seus membros” (1Cor 12,27). Aos gálatas o Apóstolo afirma a mesma unidade, que deve vencer todas as divisões humanas, que são as piores chagas na Igreja: “Todos vós, com efeito, que fostes batizados em Cristo, vos vestistes de Cristo. Não há judeu nem grego, não há escravo , não há homem nem mulher; pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gal 3,27/28). De modo muito especial é pelo Batismo e pela Eucaristia que Cristo nos faz unidos a Ele. Pelo Batismo participamos verdadeiramente de Sua morte e Ressurreição, de uma forma misteriosa, mas real (cf Rom 6,3s); e pela Eucaristia o Senhor nos faz participar realmente do Seu Corpo. Por ela nos tornamos consangüíneos e concorpóreos com Jesus. Aí então somos, pelo Espírito Santo, levados à comunhão íntima com Cristo e com todos os irmãos, formando um só Corpo. A diversidade de membros do Corpo místico não destrói a sua unidade. É a “unidade na diversidade”, como ensina São Paulo: “Mas um é o mesmo Espírito distribui todos estes dons, repartindo a cada um como lhe apraz. Porque, como o corpo é um tendo muitos membros, e todos os membros do corpo, embora muitos formam um só corpo, assim também é Cristo. Em um só Espírito fomos todos batizados para formar, um só corpo…” (1Cor 12,11/12). São Paulo insiste neste ponto também aos romanos: “Pois, como em um só corpo temos muitos membros e cada um dos nossos membros tem diferente função, assim nós, embora sejamos muitos membros, formamos um só corpo em Cristo, e cada um de nós é membro um do outro” (Rom 12,4-5). Essa maravilha de Deus para a Igreja, isto é, a “unidade na diversidade”, tem, entre outras vantagens, a de alimentar a caridade recíproca entre os membros do mesmo corpo. Cada um na Igreja recebe de Deus um dom próprio que o capacita ao serviço aos irmãos e à Igreja, de modo que ninguém se torne auto/suficiente e possa achar que tem condições de fazer tudo sozinho, sem precisar da ajuda dos outros. Deus fez a Igreja como uma Comunidade, uma família, onde cada um serve e é servido pelos outros. É o que São Paulo ensina quando diz que “cada um de nós é membro um do outro” (Rom 12,5). Sem essa colaboração mútua, que faz a caridade ser exercitada e crescer, nenhuma comunidade é forte, viva e edificante. É no somatório das riquezas que Deus deu a cada um, que a Igreja se torna rica e salvífica para o mundo. É nesse sentido que o Apóstolo diz aos coríntios: “Se o corpo todo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se fosse todo ouvido, onde estaria o olfato? … O olho não pode dizer à mão: “Eu não preciso de ti “; nem a cabeça aos pés: “Não necessito de vós” (1Cor 12, 17/21). É relevante perceber que o Apóstolo afirma que “os membros tenham o mesmo cuidado uns para com os outros” (V.25). Ninguém na Igreja pode querer fazer algo sozinho, de maneira auto/suficiente e presunçosa; seria a própria negação da natureza que Deus quis para a Igreja. Quando dependemos uns dos outros para fazer a evangelização acontecer, então somos, de fato, Igreja. Essa dependência mútua, muitas vezes difícil de ser vivida por causa dos defeitos de cada um, exercita a humildade de cada um dos membros. O Apóstolo pede aos romanos; “Adiantai/vos a honrar uns aos outros” (Rom 12,10). “Recomendo a todos e a cada um: não façam de si próprios uma opinião maior do que convém” (Rom 12,3). “Que vossa caridade não seja fingida” (V.9). Nada pior para um membro do Corpo de Cristo do que a presunção; isto é, achar-se melhor do que os outros; ou, pior ainda, “indispensável” para a comunidade e o serviço da Igreja. Nada é mais importante para a Igreja do que a sua unidade. O Senhor, antes de sofrer a Paixão, na sua Oração sacerdotal, rogou ao Pai com toda ênfase: “Pai santo, guarda/os em teu nome… a fim de que sejam um como nós” (Jo 17,11). “Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste” (V.21). É importantíssimo notar o que Jesus diz nesta oração. Se não houver unidade entre os que anunciam o seu nome, o mundo não poderá crer que Ele é o enviado do Pai para salvar os homens. Unidade e conversão dos fiéis estão intimamente relacionadas por Jesus. Por isso, como diz o Papa João Paulo II, a quebra da unidade é o maior escândalo hoje para o cristianismo. “´Dei-lhes a glória que me deste, para que sejam um, como nós somos um: eu neles, e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e o mundo reconheça que me enviaste e os amaste, como amaste a mim” (V.22-23). Não podemos nos esquecer jamais dessa palavra do Senhor: “para que sejam perfeitos na unidade”. Tudo estará perdido na Igreja se a unidade não for guardada com todo carinho. Mas ela é o fruto doce de uma comunidade humilde, simples, serviçal, onde cada um morreu para si mesmo, sem que ninguém queira aparecer, se exibir, e todos saibam perdoar e compreender os mais fracos. São Paulo recomenda aos efésios “conservar a unidade do espírito no vínculo da paz” (Ef 4,3). Esse vínculo da paz é a caridade que é “o vínculo da perfeição” (Cl 3,14). Essa era a grande preocupação do Apóstolo: Aos efésios ele pede: “Exorto-vos, pois, que leveis uma vida digna da vocação a qual fostes chamados, com toda a humildade e amabilidade, com grandeza de alma, suportando-vos mutuamente na caridade. Sede solícitos em conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef 4,1/3). O Apóstolo é realista; ele sabe que não é fácil a vida em comunidade, onde os defeitos de cada um geram problemas e divisões. Em nome da “unidade do Espírito”, ele suplica que os fiéis “suportem-se mutuamente”. Aos filipenses ele pede também: “Tornais então completa a minha alegria: aspirai à mesma coisa, unidos no mesmo amor; vivei em harmonia, procurando a unidade. Nada façais por competição ou vanglória, mas, com humildade, cada um julgue que o outro é mais importante, e não cuide somente do que é seu, mas também do que é do outro”(Fil 2,1-4). Essas palavras do Apóstolo mostram bem o que fere a unidade: competições e vangloria; e dá o remédio: humildade. Aos coríntios São Paulo pede: “Eu vos exorto, irmãos, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo; guardai a concórdia uns com os outros, de sorte que não haja divisões entre vós, sede, estreitamente unidos no mesmo espírito e no mesmo modo de pensar” (1Cor 1,10). Aos romanos ele insiste: “O Deus da perseverança e da consolação vos conceda terdes os mesmos sentimentos uns para com os outros, a exemplo de Cristo Jesus, a fim de que, com um só coração e uma só voz, glorifiqueis a Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Rom 15,5). Como poderemos glorificar a Deus num só coração e numa só voz se as nossas almas estiverem divididas? As feridas da unidade da Igreja sempre foram e sempre serão as mais dolorosas e prejudiciais para a sua vida. Muitas separações e cismas .aconteceram por causa dos pecados dos homens, como dizia Orígenes(184-254): “Onde estão os pecados, aí está a multiplicidade, aí o cisma, aí as heresias, aí as controvérsias. Onde, porém, a virtude, aí a unidade, aí a comunhão, em força da qual os crentes eram um só coração e uma só alma (At 4,32)” (CIC nº 817). Talvez ninguém melhor do que São Cipriano (258), bispo de Cartago, tenha escrito sobre a importância da unidade da Igreja. Nos seus escritos ele mostra como o demônio age para dividir a Igreja. Ouçamos o que ele ensina: ” O inimigo, desmascarado e derrotado pela vinda de Cristo, … trama nova emboscada para iludir os incautos, sob o rótulo do próprio nome de cristãos. Inventa heresias e cismas para subverter a fé, corromper a verdade e quebrar a unidade… Rouba homens da própria Igreja e os imerge, inconscientes, em outras trevas, deixando/os pensar que se aproximam da luz e escapam à noite do século. Continuam a se dizerem cristãos sem guardarem a boa nova de Cristo, os seus preceitos e as suas leis! Julgam ter luz e caminham nas trevas! O inimigo sedutor e mentiroso que, nas palavras do apóstolo, se transforma em anjo de luz, apresentando seus ministros como ministros da justiça, anunciando a noite como o dia, a perdição como salvação,…o Anticristo sob o nome de Cristo, lhes escurece e frustra a verdade pela sutileza, propondo como verdadeiras coisas ilusórias. Isto se dá, caríssimos irmãos, porque não mais se volta à origem da verdade, não se vai mais à sua fonte, nem se guarda a doutrina do magistério celeste” (Sobre a Unidade da Igreja). E o grande bispo de Cartago pergunta, desde o terceiro século: “Julga conservar a fé, quem não conserva esta unidade recomendada por Paulo? (Ef 4,4/6). Confia estar na Igreja, quem abandona a cátedra de Pedro sobre a qual está fundada a Igreja? E continua a discorrer sobre a importância capital da unidade da Igreja. Vale a pena ler com atenção os seus escritos de mais de 17 séculos: “Principalmente nós, que presidimos a Igreja como bispos, devemos manter e defender firmemente esta unidade, dando provas da união e indivisibilidade do episcopado… O episcopado é único e dele possui por inteiro cada bispo a sua porção. A Igreja é uma só, embora abranja uma multidão pelo contínuo aumento de sua fecundidade. Assim como há uma luz nos muitos raios do sol, uma árvore em muitos ramos, um só tronco fundamentado em raízes tenazes, muitos rios de uma única fonte, assim também esta multidão guarda a unidade de origem, se bem que pareça dividida por causa da inumerável profusão dos que nascem. A unidade da luz não comporta que se separe um raio do centro solar; um ramo quebrado da árvore não cresce, cortado da fonte o rio seca imediatamente. Do mesmo modo a Igreja do Senhor, como luz derramada estende os seus raios em todo o mundo, e é uma única luz que se difunde sem perder a própria unidade. Ela desdobra os ramos por toda a terra, com grande fecundidade; estende/se ao longo dos rios, com toda liberalidade, e no entanto é uma na cabeça, uma pela origem, uma só mãe imensamente fecunda. Nascemos todos de seu ventre, somos nutridos com seu leite e animados por seu espírito.” A esposa de Cristo não pode ser adulterada, ela é incorrupta e pura, não conhece mais que uma só casa, guarda com casto pudor a santidade do único tálamo. Ela nos conserva para Deus, entrega ao Reino os filhos que gerou. Quem se aparta da Igreja e se junta a uma adúltera, separa/se das promessas da Igreja. Quem deixa a Igreja de Cristo não alcançará os prêmios de Cristo. É um estranho, um profano, um inimigo. Não pode ter Deus por Pai quem não tem a Igreja por mãe. Se alguém se pôde salvar dos que ficaram fora da arca de Noé, também se salvará os que estiverem fora da Igreja. O Senhor nos admoesta e diz: “Quem não está comigo está contra mim, e quem não ajunta comigo, dispersa” (Mt 12,30). Torna-se adversário de Cristo quem rompe a paz ea concórdia de Cristo; aquele que noutra parte recolhe, fora da Igreja, dispersa a Igreja de Cristo.” A Igreja católica olha com respeito os cristãos que estão fora dos seus limites. O Catecismo nos ensina algo muito importante sobre isso: “Os que hoje em dia nascem em comunidades que surgiram de tais rupturas e estão imbuídos da fé em Cristo não podem ser arguidos de pecado de separação, ea Igreja católica os abraça com fraterna reverência e amor… Justificados pela fé recebida no Batismo, estão incorporados em Cristo, e por isso com razão são chamados com o nome de cristãos, e merecidamente reconhecidos pelos filhos da igreja católica como irmãos no Senhor” (UR,3), (CIC nº 818). A Igreja também reconhece que: “Muitos elementos de santificação e de verdade existem fora dos limites visíveis da Igreja Católica”: a palavra escrita de Deus, a vida da graça, a fé, a esperança ea caridade e outros dons do Espírito Santo” (UR, 3). O Catecismo ainda afirma que: “O Espírito Santo de Cristo serve-se dessas igrejas e comunidades eclesiais como meios de salvação cuja força vem da plenitude da graça e da verdade que Cristo confiou à Igreja Católica. Todos esses bens provêm de Cristo e levam a Ele e impelem à “unidade católica”(LG, 8). Essas palavras não querem de forma alguma dizer que podemos aceitar essa triste realidade dos irmãos separados da fé católica, “como se tudo estivesse bem”. Não. O verdadeiro ecumenismo nunca será uma forçada justaposição de muitas igrejas, mas o reconhecimento de que só há uma Igreja fundada por Jesus e que contém com garantia todo o “depósito da fé” e “a plenitude dos meios da salvação”. Infelizmente ocorreram rupturas na unidade da Igreja. São os cismas; a quebra da comunhão com o Papa, sem que haja necessariamente uma heresia. É a divisão do Corpo místico; é como que o rasgar a túnica inconsútil (sem costura) de Cristo. Aquele manto que os soldados sortearam (Mt 27,35), sem rasgá-lo, sempre foi visto pela Igreja como um símbolo forte da unidade querida por Cristo para ela. “Repartiram entre si minhas vestes e sobre Meu manto lançaram a sorte” (Sl 21,19). Essa túnica de Cristo foi rasgada várias vezes na história da Igreja, e esses foram os momentos de maior sofrimento para ela. No entanto, consola-nos as palavras de Santo Hilário de Poitiers (367): “Foi sempre privilégio da Igreja vencer quando é ferida, progredir quando é abandonada, crescer em ciência quando é atacada”. Foi exatamente nos tempos de lutas contra as piores heresias, surgidas dentro da própria Igreja, que ela desenvolveu a solidez de sua doutrina tal qual a temos hoje e professamos no Credo. Cristo e os Apóstolos já tinham alertado os discípulos para o perigo dos falsos doutores e falsos profetas. No Sermão da Montanha, Jesus avisou desde cedo: “Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos arrebatadores” (Mt 7,15). Ao se despedir dos anciãos e bispos de Éfeso, São Paulo recomendava: “Cuidai de vós mesmos e do rebanho que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja de Deus, que Ele adquiriu com o seu próprio sangue. Sei que depois da minha partida se introduzirão entre vós lobos cruéis, que não pouparão o rebanho. Mesmo dentre vós surgirão homens que hão de proferir doutrinas perversas, com o intento de arrebatarem após si os discípulos. Vigiai… ” (At 20,28). Note que São Paulo diz que é de dentro do próprio rebanho que surgirão os lobos. Com a mesma ênfase São Pedro alertou: “Assim como houve entre o povo falsos profetas, assim também, haverá entre vós falsos doutores, que introduzirão disfarçadamente seitas perniciosas” (2 Pe 2,1). É muito importante notar que Pedro já falava das “seitas perniciosas”, que hoje são tão abundantes. As piores heresias que surgiram na vida da Igreja foram enfrentadas e vencidas nos Concílios. Nos primeiros séculos a Igreja foi perturbada fortemente pelo gnosticismo dualista que acreditava que a matéria era obra do mal e que portanto Jesus jamais poderia ter assumido de fato um corpo humano material. Negava assim a Encarnação ea salvação dos homens pela morte e ressurreição de Jesus. Era o também chamado docetismo, que ensinava hereticamente que a encarnação do Verbo tinha sido apenas aparente. Esta heresia, que penetrou na Igreja vindo da Pérsia, foi combatida pelos próprios Apóstolos (cf Col 2,9; 1Jo 4,2; 2Jo7) e principalmente por Santo Ireneu (202).Talvez tenha sido a pior heresia dos primeiros tempos. Ainda nos séculos II e III surgiram as heresias do tipo monarquianista (adopcionismo, subordinacionismo), que negavam a Santíssima Trindade, não aceitando as três Pessoas divinas como distintas. O Filho eo Espírito Santo seriam apenas manifestações do próprio Pai, ou subordinadas ao Pai, e não Pessoas igualmente divinas e distintas, na única Trindade. Depois das heresias Trinitárias, surgiram as heresias Cristológicas: 1 – Arianismo / Ário, de Alexandria (334), defendia que Cristo era apenas uma criatura do Pai; a maior de todas, através da qual o Pai tinha criado as demais. Foi combatida por Santo Atanásio e condenada no primeiro Concílio da Igreja, o de Nicéia (325), que ensinou ser Jesus “Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pa”. 2- Apolinarismo – Apolinário (300-390), bispo de Laodicéia, defendia que Cristo não tinha uma alma humana; era Deus, mas com uma natureza humana mutilada. Foi combatido principalmente pelos Santos Padres São Gregório de Nazianzo (329-390) e São Gregório de Nissa (394), segundo o princípio de que “o que não foi assumido pelo Verbo não foi redimido”. 3- Macedonismo / Macedônio, bispo de Constantinopla, defendia que o Espírito Santo não era Deus, mas mera criatura do Pai. Esta heresia foi condenada no Concílio de Constantinopla II (381), que ensinou ser o Espírito Santo uma Pessoa divina. “Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho;e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado” (Símbolo Niceno-Constantinopolitano). 4- Nestorianismo – Nestório (426), patriarca de Constantinopla, que defendia herroneamente que em Jesus havia duas pessoas (humana e divina) e duas naturezas; Maria seria apenas a mãe de Jesus homem, mas não Mãe de Deus (como querem os protestantes), como se existissem dois Eu(s) em Jesus. Desde o primeiro século os cristãos chamavam Maria de “Theotokos” (Mãe de Deus). Essa heresia foi condenada no Concílio de Éfeso (431), principalmente pelo trabalho de S.Cirilo de Alexandria (444). O Concílio ensinou que em Jesus há uma só Pessoa (divina), o Eu de Jesus é divino, mas há duas naturezas (humana e divina) unidas e distintas, harmoniosamente, nesta única Pessoa, que é a do Verbo. Confirmou firmemente a crença dos cristãos desde os primeiros século, de que Maria é a Santa “THEOTOKOS”. 5- Monofisismo / Defendida por Êutiques de Constantinopla e Dionísio de Alexandria, foi uma réplica exagerada ao Nestorianismo, caindo em erro oposto; dizia que em Jesus havia apenas uma Pessoa e uma Natureza. Defendia que a natureza divina teria absorvido a humana, e assim Jesus não seria perfeitamente homem. Esta heresia foi condenada no Concílio de Calcedônia (451), que reafirmou haver em Jesus uma só Pessoa (divina), mas nela há duas naturezas (divina e humana). 6- Monotelitismo ou Monoenergismo / Sérgio, patriarca de Constantinopla (sec.VII), defendia que em Jesus havia uma só Pessoa, duas naturezas, mas uma só vontade(“theletes”, em grego) e uma só operação. Isto também negava que Jesus fosse perfeitamente homem. Essa heresia foi condenada no Concílio de Constantinopla III (681); que ensinou haver em Jesus uma só Pessoa, duas naturezas, duas vontades e operações. Isto quer dizer que Jesus é inteiramente Deus e inteiramente homem. Na terra, quando queria agia como Deus (milagres), mas redimiu os homens assumindo totalmente, integralmente, a natureza humana. Diz a carta aos hebreus que Jesus: “…passou pelas mesmas provações que nós, com exceção do pecado”(Hb 4,15). “…em tudo semelhante aos seus irmãos” (Hb 2,17). Aqui estão alguns casos de cismas que ocorreram na Igreja: no ano de 431 houve o cisma dos Nestorianos, seguidores de Nestório, bispo de Constantinopla, que não aceitaram as decisões do Concílio de Éfeso. Em 451 houve o cisma dos Monofisitas, que não aceitaram as decisões do Concílio de Calcedônia sobre as duas naturezas distintas de Jesus. Em 1054 houve o grande cisma de Miguel Cerulário e dos orientais ortodoxos; em 1517, o de Martinho Lutero e do Protestantismo; em 1534, o de Henrique VIII, rei da Inglaterra, eo Anglicanismo. Aqui no Brasil houve o cisma em 67/1945 que originou as Igrejas Católicas Brasileiras. Nos cismas nem sempre está presente a heresia, que é uma doutrina contrária à verdade revelada por Deus e proposta pela Igreja. O herege é aquele que não aceita a correção da Igreja e permanece intransigente no seu engano. É interessante notarmos aqui uma observação de Santo Agostinho: “Não penses que as heresias são produto de mentes obtusas. É necessário uma mente brilhante para conceber e gerar uma heresia. Quanto maior o brilho da mente, maiores suas aberrações”. Os hereges “formais” são os que cometem pessoalmente o pecado da heresia e do cisma, e excluem/se da comunhão da Igreja, embora conservem o caráter batismal. Os hereges e cismáticos “materiais” são os que nascem no seio de comunidades heréticas e cismáticas mas não são autores de heresia e cisma. Esses pertencem à comunhão imperfeita com a única Igreja de Cristo. Muitas vezes se pergunta sobre a salvação dos adultos que morram sem o Batismo ou morram com o Batismo recebido fora da perfeita comunhão com a Igreja Católica. Sabemos que o Sacramento do Batismo é o caminho normal que Deus quis para a salvação de todos (cf Mc 16,16). Mas, logo no início do cristianismo a Igreja reconheceu outros meios, que são o martírio e o “desejo explícito” de Batismo. A partir do século XVI a Igreja passou a admitir também o “desejo implícito de Batismo”; isto é: se uma pessoa é pagã, mas vive de boa fé, mesmo segundo crenças não católicas, e é tão dócil a Deus que, se soubesse da necessidade do Batismo para a sua salvação, ela o pediria, neste caso o desejo do Batismo está implícito na vida da pessoa e, por isso, ela pode ser salva. O Catecismo da Igreja diz assim: “Para os catecúmenos que morrem antes de seu Batismo, seu desejo explícito de recebe-lo, juntamente com o arrependimento dos seus pecados e com a caridade, garante-lhes a salvação que não puderam receber pelo Sacramento” (nº 1259). “Todo homem que, desconhecendo o Evangelho de Cristo e a sua Igreja, procura a verdade e prática a vontade de Deus segundo o seu conhecimento dela, pode ser salvo. Pode-se supor que tais pessoas teriam desejado explicitamente o batismo se tivessem tido o conhecimento da necessidade dele” (nº 1260). O Concílio Vaticano II confirma essa doutrina precisamente. Diz a “Lumen Gentium”: “O Salvador quer que todos os homens se salvem. Aqueles, portanto, que sem culpa ignoram o Evangelho de Cristo e sua Igreja, mas buscam a Deus de coração sincero e tentam sob o influxo da graça cumprir por obras a sua vontade conhecida através dos ditames da consciência, podem conseguir a salvação eterna. A Divina Providência não nega os auxílios necessários à salvação àqueles que sem culpa ainda não chegaram ao conhecimento expresso de Deus, e se esforçam, não sem a divina graça, por levar uma vida reta” (LG 16). Embora reconheça tudo isso, a Igreja católica tem consciência de que ela possui, como disse o Papa João Paulo II, “por vontade expressa de Deus, a plenitude dos meios da salvação”, ou seja “todos os instrumentos da graça” (UR,3 e 4). Nossos irmãos separados da fé católica que já nasceram nas igrejas ditas evangélicas não podem ser culpados pela separação havida no passado; contudo, estão desprovidos de muitos meios de salvação e santificação que Jesus nos deixou: Sacramentos, devoção a Maria, aos santos, sacramentais, etc. É preciso lembrar aqui que quando a Igreja Católica se refere às igrejas protestantes, ela pensa naquelas tradicionais e históricas (luterana, presbiteriana, batista, anglicana, ortodoxa, congregacionalista, etc), e não nesta multidão incontável de seitas que se multiplicam a cada dia, de maneira incontrolável e independente. O ecumenismo é buscado com as igrejas protestantes históricas; não com as seitas. A “Lumen Gentium” deixa bem claro que: “A única Igreja de Cristo … é aquela que nosso Salvador, depois da sua Ressurreição, entregou a Pedro para apascentar e confiou a ele e aos demais Apóstolos para propagá-la e regê-la… Esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como uma sociedade, subsiste na Igreja Católica governada pelo sucessor de Pedro e pelos bispos em comunhão com ele” (LG, 8). Diz ainda o decreto do Concílio sobre o Ecumenismo: “Pois somente através da Igreja católica de Cristo, auxílio geral de salvação, pode ser atingida toda a plenitude dos meios de salvação. Cremos que o Senhor confiou todos os bens do Novo Testamento ao único Colégio Apostólico, de que Pedro é o chefe, a fim de constituir na terra um só Corpo de Cristo, ao qual é necessário que se incorporem plenamente todos os que, de alguma forma, já pertencem ao Povo de Deus” (UR,3). A unidade da Igreja se revela também por vários fatores: doutrina, liturgia, governo, sucessão apostólica, etc. A Igreja possui uma única doutrina, um único Credo, a profissão de uma única fé recebida dos Apóstolos. Ninguém pode se dizer católico se não crê nessas verdades da fé. Especialmente hoje, com o novo Catecismo aprovado pelo Papa em 1992, ficou ainda mais claro e visível para a Igreja no mundo todo, a mesma doutrina, tanto em termos dos dogmas quanto da moral. A celebração litúrgica, sobretudo dos sacramentos, é outro ponto forte de unidade da Igreja. Em qualquer parte do planeta vivemos o mesmo Calendário Litúrgico, a mesma Missa, as mesmas festas litúrgicas, com pequenas variações. Outro fator de unidade é a sagrada hierarquia implantada por Jesus. A sucessão apostólica, através do Sacramento da Ordem, garante a ordem fraterna na Igreja e é a salvaguarda da unidade. O principal fator, a “pedra da unidade” é o Papa, ao qual são submissos todos os bispos, sacerdotes e leigos. Os grandes filhos da Igreja sempre se guiaram por este lema: “Cum Petro et sub Petro.” Essa providência do Senhor nunca faltou à Igreja. Já tivemos 264 Papas, ea Igreja sempre teve a sua Cabeça Visível. É o Vigário de Cristo na terra; ou, como disse Santa Catarina de Sena, o “doce Cristo na terra”. Já tivemos até cerca de 50 anti-papas, papas ilegítimos, fruto das fraquezas humanas, mas não ficamos sem o Papa verdadeiro, em que pese todos os pecados dos homens.
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