“Sobre esta Pedra edificarei a MINHA Igreja” (Mt 16,18)
Com essas palavras Jesus se dirigiu a Pedro ao confiar-lhe o mandato de governar a Sua Igreja, deixando claro que a Igreja é
“propriedade” Dele. Ele a quis como o Seu Corpo Místico, constituído como o “Sacramento universal da salvação da humanidade”
(LG, 48), isto é, o meio escolhido por Deus para salvar a todos. Ela é o
prolongamento da Encarnação de Jesus
no meio dos homens, para formar, Nele, a grande família dos filhos de
Deus. A Igreja é a trajetória do Cristo através dos séculos. Bossuet
disse que: “A Igreja é Jesus Cristo derramado e comunicado a toda a
terra”.
Tudo pode ser resumido na palavra de um grande Padre do primeiro
século, Santo Inácio de Antioquia (†110), ao dizer que: “Onde está o
Cristo Jesus está a Igreja Católica”. O Catecismo da Igreja Católica
(CIC), afirma que: “A convocação da Igreja é por assim dizer a reação de
Deus ao caos provocado pelo pecado” (§761). Para Santo Agostinho “ a
Igreja é o mundo reconciliado Ela é a Esposa de Cristo, que ele ama com
um amor eterno. Por ela sofreu a paixão e derramou o seu sangue.
“Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se
entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo,
para apresentá-la a si mesmo toda glorificada, sem mácula, sem
ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e
irrepreensível” (Ef 5,25-27).
O Papa Paulo VI, cujo amor à Igreja era imenso, assim se referiu a ela:
“A
Igreja! Ela é nosso amor constante, nossa solicitude primordial, nosso
pensamento fixo! … Não se ama a Cristo se não se ama a Igreja; e não
amamos a Igreja se não a amamos como a amou o Senhor: “Amou a Igreja e
por ela se entregou” (Ef 5,25)”.O Concílio Vaticano II a chamou de
“Lumen Gentium”, isto é “Luz das Nações”, pois a sua Luz é a mesma Luz
de Cristo. “Assim [Deus] estabeleceu congregar na Santa Igreja os que
crêem em Cristo… será gloriosamente consumada quando, segundo se lê nos
Santos Padres, todos os justos desde Adão, “do justo Abel ao último
eleito”, serão congregados junto ao Pai na Igreja universal” (LG , 2).
É preciso termos bem claro que Deus decidiu estabelecer o seu Reino
entre nós, através da Igreja. Ensina-nos a “Lumen Gentium” que a Igreja
tem “a missão de anunciar e estabelecer em todas as gentes o Reino de
Cristo e de Deus, e constitui ela própria na terra o germe e o início
deste Reino” (LG ,5). Sem a Igreja não há, portanto, Reino de Deus.
Santo Agostinho escreveu que: “A Igreja recebeu as chaves do Reino dos
Céus para que se opere nela a remissão dos pecados pelo sangue de Cristo
e pela ação do Espírito Santo. É nesta Igreja que a alma revive, ela
que estava morta pelos pecados”.
O Catecismo diz que ela é: “Um projeto nascido no coração
do Pai” (nº 759), “Prefigurada desde a origem do mundo”(nº 760),
“Preparada na Antiga Aliança” (nº761), “Instituída por Jesus Cristo”(nº
763), “Manifestada pelo Espírito Santo” (nº 767), “A ser consumada na
glória” (nº769), “ Mistério da união dos homens com Deus” (nº772),
“Sacramento universal da salvação” (nº774), “Comunhão com Jesus”
(nº787), “Corpo de Cristo” (nº787), “Esposa de Cristo” (nº796), “Templo
do Espírito Santo” (nº797), “Povo de Deus” (nº781).
Alguns perguntam: por que a Igreja ? Não basta a fé
em Jesus Cristo? A resposta é, que foi o próprio Jesus quem quis a
Igreja como prolongamento de sua presença salvadora no meio dos homens.
Ele nos deu a Igreja e o seu Credo, como garantia de que não estamos
seguindo apenas o nosso bom senso, ou uma religiosidade amorfa, mas
estamos seguindo o caminho de Deus.
Muitos querem hoje dizer
Sim à Cristo, e
Não à
Igreja; mas isto afeta a própria identidade do Cristianismo. A Igreja,
instituída por vontade de Cristo, com suas normas, como prolongamento da
Encarnação do Verbo de Deus, se tornou o lugar privilegiado do encontro
dos homens com Cristo e com o Pai. O Pai enviou Jesus para a salvação
do mundo, e Cristo enviou a Igreja. “Assim como o Pai me enviou, eu vos
envio a vós…” (Jo 20,22)
Muitos hoje querem a Igreja na forma de uma
“democracia moderna”, onde tudo se decida pela vontade da maioria. Ela seria então como um grande
Clube religioso, de normas
“flexíveis”,
mais assimiláveis. A conseqüência disso – e o grande engano – é que
neste caso o homem seria guiado unicamente por si mesmo, e não por Deus.
Não seria mais “a Igreja de Deus” (1Tm3,15). Pelo fato da Igreja ter a
sua vida guiada pela Tradição que vem de Cristo e dos Apóstolos, dá-nos a
garantia de que é o próprio Jesus, presente nela, que a conduz.
Num Cristianismo sem a Igreja instituída por Cristo (Mt 16,16s) sobre
Pedro e os Apóstolos, o próprio Cristo ficaria mutilado, como que
degolado… Os textos bíblicos, com referência à função de Pedro e dos
Apóstolos, deixam claro que Jesus quis uma Igreja estruturada e
jurídica, sob o pastoreio supremo de Pedro, e não como querem os
protestantes, apenas uma comunidade espiritual reunida só pela fé e pelo
amor. Como ensina o Catecismo, ela é: “ao mesmo tempo visível e
espiritual”(nº770), e afirma que: “O Senhor Jesus dotou a Sua comunidade
de uma estrutura que permanecerá até a plena consumação do
Reino”(nº761).
Jesus tinha consciência de que a Sua Igreja teria uma longa
duração sobre a face da terra até cumprir a missão de trazer para Deus
toda a humanidade. As parábolas sobre a Igreja mostram isso. A do joio e
do trigo (Mt 13,1-30) nos mostra que os bons e os pecadores vão
conviver na Igreja, juntos, até o fim do mundo. Jesus, ao explicar a
parábola para os discípulos, diz-lhes que: Ainda as parábolas do
banquete (Mt 8,19s) e do fermento na massa (Mt 13,33s), indicam que a
Igreja teria uma longa e paciente missão a cumprir, até a plena
consumação do Reino.
A Igreja não é portanto, apenas uma
“Sociedade dos Amigos de Jesus e do Evangelho”,
é muito mais do que isso, é uma Instituição criada pelo próprio Jesus,
integrada Nele, o Seu próprio Corpo, para desta forma ser o seu
prolongamento na história dos homens, reunindo-os Nele, para trazê-los
de volta para a Casa do Pai. Por tudo isso, os cristãos dos primeiros
tempos não tinham dúvidas em afirmar que
: “O mundo foi criado
em vista da Igreja”. São Clemente de Alexandria (†215), por exemplo,
dizia: “Assim como a vontade de Deus é um ato e se chama mundo,
assim também sua intenção é a salvação dos homens, e se chama
Igreja”(§760).
Esta é a Santa Igreja do Pai, do Filho, e do Espírito Santo, que São Paulo gosta de chamar de
“a Igreja de Deus”(1Tm3,15;
At 20,28). Muitos e muitos filhos dessa querida Mãe souberam ser-lhe
fiel até o fim. Em 1988, Monsenhor Ignatius Ong Pin-Mei, Bispo de
Shangai, no dia seguinte de sua libertação, depois de passar 30 longos
anos nas prisões da China, por amor a Cristo e fidelidade à Igreja
Católica, declarou: “Eu fiquei fiel à Igreja Católica Romana. Trinta
anos de prisão não me mudaram. Eu guardei a fé. Eu estou pronto amanhã
a voltar novamente à prisão para defender minha fé”.
Igualmente o Cardeal da Tchecoslováquia, Frantisek Tomasek,
arcebispo de Praga, no ano de 1985, nos tempos difíceis da perseguição
comunista, perguntado por um repórter: “Eminência, não está cansado de
combater sem êxito?”, respondeu: ”Digo sempre uma coisa: quem trabalha
pelo Reino de Deus faz muito; quem reza, faz mais; quem sofre, faz tudo.
Este tudo é exatamente o pouco que se faz entre nós na
Tchecoslováquia”( IL Sabato 8,14/06/85, p.11),( PR,n. 284, jan86). É bom
recordar aqui que, alguns anos depois, em 1989, o comunismo começava a
desmoronar em toda a Cortina de Ferro…
Prof. Felipe Aquino –
www.cleofas.com.br